Lançamento de sapato - II



Publicado em: O Gaiense, 1 de Maio de 2009

Depois de um jornalista ter atirado um sapato à cara de George Bush, em Bagdade, eis que a saga continua no local mais improvável do mundo: na circunspecta Bélgica, no ambiente seleccionado e exclusivo de uma Assembleia Geral de accionistas de um dos mais importantes grupos financeiros globais: o Fortis.

Quem conheça a Bélgica e os belgas, quem conheça o mundo sofisticado da alta finança, concordará que ver accionistas revoltados atirarem sapatos e dossiers contra o presidente em plena Assembleia Geral é um sinal muito forte de que o mundo já não é o que era e de que vivemos tempos de grandes mudanças.

Em mais um episódio da batalha pelo controlo do banco, os accionistas minoritários reagiam às propostas de venda ao BNP Paribas. Já tinham impedido por duas vezes o desmantelamento do grupo e forçado o governo e o BNPP a modificar o seu acordo. Mas agora foi aprovado.

O Fortis foi profundamente afectado pela crise. Símbolo maior da excelência belga no mundo dos negócios, foi salvo pelo Estado, mas vai agora ser entregue a um dos seus principais concorrentes privados, ainda por cima francês.

Para termos uma ideia da ordem de grandeza do Fortis, poderá dizer-se que vale cerca de dez vezes a Galp Energia em volume de negócios e número de empregados. No ranking mundial de 2008 da revista Fortune, aparecia em 14.º, enquanto que a Galp, a única presença portuguesa, se situava no 484.º lugar.

Por cá, o Fortis é o accionista maioritário da Ocidental Seguros, Ocidental Vida, Pensões Gere e Médis Saúde, com milhares de clientes em Portugal.

Com uma segunda AG na Holanda, que confirmou a venda, ficou aberto o caminho para a criação do que virá a ser, muito provavelmente, o maior banco europeu.

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