Publicado em: O Gaiense
Sabemos como a internet mudou o mundo e as nossas vidas nas últimas duas décadas e meia. Discute-se agora o passo seguinte: a extensão desta rede de pessoas ligadas através de computadores ou telemóveis interconectados a uma rede de objectos interconectados, a "Internet das coisas". Não se trata apenas dos electrodomésticos que podemos accionar através da internet, iniciando a preparação do jantar uma hora antes de chegarmos a casa. Trata-se da interacção entre as próprias coisas. Por exemplo, entre um iogurte e o frigorífico: o iogurte terá um chip com a data de validade, que o frigorífico saberá ler para afixar num monitor da sua porta "atenção, amanhã expira o prazo dos iogurtes de morango". Um produto congelado pode registar a temperatura a que foi mantido em todo o percurso de armazenamento e transporte. Um automóvel pode chamar sozinho o 112 em caso de acidente em que os passageiros fiquem incapacitados de o fazer, dar a localização precisa e várias informações sobre o que se passou. Passamos da relação pessoa-coisa à relação coisa-pessoa e coisa-coisa. Há todo um mundo de possibilidades que se abre, mas que não é isento de riscos e problemas.
No meu apartamento em Bruxelas, resultado da divisão de uma antiga casa senhorial, há quatro aquecedores a óleo ligados à caldeira geral na cave da casa. Como partilhar de uma forma justa os elevados custos de aquecimento entre os vários apartamentos? A solução encontrada foi transformar cada velho aquecedor numa coisa interconectada através de um tag (um chip com antena), que regista a que temperatura e quanto tempo está ligado. Há depois alguém que, passando na rua e sem entrar nas casas, se liga a estes chips registando os dados para fazer a distribuição dos custos. Não sei quem é o contador, mas ele pode saber muitas coisas acerca de mim.
Até onde a internet das coisas vai penetrar na nossa privacidade, como e por quem vão ser controlados os dados pessoais que armazena, eis algumas das questões em discussão. Bem como a forma de garantir o direito ao que se tem chamado o "silêncio dos chips", isto é, o direito de qualquer um se desconectar totalmente deste ambiente de informação sempre que o desejar.
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