Texto publicado em O Gaiense, 22 de Dezembro de 2018
As praças e mercados de Natal são uma tradição que se está a enraízar no nosso país e a Praça de Natal de Gaia, inserida nesse movimento, é uma excelente ideia. Embora haja muito espaço para evoluir, tudo o que lá está me parece bem: os divertimentos, que acho bem que sejam grátis, os programas de animação, a casa do Pai Natal e as suas prendas solidárias, ou até a carrinha que não só transporta as pessoas como, talvez mais importante, vai abrindo o caminho para a ideia e para a prática mais alargada do transporte público municipal gratuito, ao serviço das populações, que é uma ideia estratégica com grande futuro.
Mas, passeando na Praça, senti que faltava ali qualquer coisa de fundamental e é sobre isso que vos queria falar. Não como uma crítica à Praça de Natal 2018, mas antes como uma sugestão para a Praça de Natal de 2019.
Senti que faltava ali comércio. Eu, que até sou altamente crítico da paranóia comercial em que o capitalismo conseguiu transformar esta quadra que devia ser só de amor e de solidariedade, que não gosto nada da obsessão das prendas de Natal, acho contudo que não podemos ignorar essa realidade. Um objectivo interessante para 2019 seria que o nosso Mercado de Natal, que hoje tem na Praça uma escassa dúzia de barraquinhas e uma limitadíssima gama de produtos, se transformasse num grande Mercado de Natal, que os gaienses (e os turistas) pudessem escolher como um sítio bom para irem comprar as suas prendas de Natal. Com dezenas e dezenas de barraquinhas, não numa lógica de shoppingcomercial, mas precisamente como alternativa, e suficientemente forte e atractiva para ser uma verdadeira alternativa àquela outra lógica de negócio, bem menos natalícia. E temos ainda muito espaço por ocupar lá naquele local do centro cívico, que dá perfeitamente para sermos ambiciosos neste projecto.
Mas, para conseguirmos ter êxito nessa lógica "comercial" alternativa, seria preciso fazer um programa atempado e ambicioso de ocupação das novas barraquinhas de venda. Com quem?
Uns ocupantes óbvios seriam os artesãos e os artistas do concelho, que teriam de ser aliciados a participar. E também a própria Câmara e todas as instituições municipais e de freguesia que tenham algo para vender: as suas edições de livros, de reproduções de arte ou outros objectos. Mas também as associações, e temos tantas em Gaia. Ou outras instituições culturais, ou os bombeiros, os escuteiros, os clubes desportivos, também.
Mas, mais importante ainda do que estas instituições, seria a participação das escolas, das creches, dos lares, dos centros paroquiais.
Não seria interessante que as crianças, durante todo o primeiro período lectivo, no âmbito das suas actividades ligadas às artes visuais, dando asas à sua criatividade, projectassem e fabricassem decorações natalícias para eles próprios irem vender na sua barraquinha durante as férias de Natal?
Ou os utentes de um lar? Não poderiam os idosos mais dotados para a cozinha (por exemplo) fazer doces ou rabanadas para venderem naquele mercado? E estarem lá eles mesmos a vendê-los, a conviver com o público, a praticar o seu raciocínio matemático com os trocos e o fecho de caixa? Talvez até com o aliciante de servirem as suas iguarias acompanhadas por um cálice de Porto que, estou certo, as nossas empresas de vinho, sempre generosas, não hesitariam em oferecer a estas instituições para as ajudar neste projecto. Tudo isto pode constituir em si uma actividade de grande relevância para os próprios projectos educativos ou de animação daquelas instituições. Mas também cria laços diferentes e mais fortes na comunidade gaiense. É o convívio, ou seja, a nossa vida em comumque se reforça.
Isto é comércio que é muito mais do que comércio. Tem outro espírito e tem outros objectivos. E permite também à Praça responder melhor a toda a família. Se as crianças e jovens vão à Praça de Natal para se divertirem, os pais podem ir com eles para irem às compras.
Vivi muitos anos em cidades da Europa onde existe grande tradição destas feiras de Natal e muitos dos meus amigos, que faziam as suas compras normalmente nos shoppings, no Natal só compravam as prendas nestas feirinhas - prendas com espírito natalício. Diziam até que se sentiam mal se fossem fazer as compras de Natal noutro sítio, não era a mesma coisa…
Se conseguirmos trazer este espírito e esta tradição para Gaia, estamos a dar mais um passo no bom sentido: não só melhoramos a vida colectiva no concelho mas, mais do que isso, melhoramos um pouco o sentido da vidada nossa comunidade. E esse é que é o verdadeiro espírito do Natal.
O Rancho Folclórico da Afurada no Almoço de Natal Sénior de Santa Marinha e S. Pedro da Afurada:
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