O TURISTA E O BALÃO Uma história de proveito e exemplo

O TURISTA E O BALÃO

Uma história de proveito e exemplo 


O balão de S. João é um objecto voador não tripulado com uma chama acesa. Dizem os técnicos (e é sempre prudente acreditar nos técnicos) que pode constituir um perigo para a aviação. Ora, é a aviação que nos traz os turistas, que sustentam a nossa economia.


Postos perante o dilema: o balão ou o avião, as autoridades, mais concretamente a Autoridade Nacional de Aviação Civil decidiu "fechar o espaço aéreo do Porto durante o período previsto de maior intensidade de lançamento". E o nosso céu lá se encheu outra vez de balões, deixando os aeroturistas à espera.


É bom que, uma vez ou outra, possamos ter uma notícia como esta para não perdermos o que nos resta da esperança na construção de um país decente e que se dê ao respeito. 


E o que é que os turistas terão pensado disto? Não sei se foi feito algum inquérito, por isso limito-me a especular. Talvez tenham pensado que o Porto é uma terra que vale mesmo a pena visitar, já que tem tradições tão fortes que até param a aviação, uma das indústrias mais poderosas do planeta. Nesse sentido, esta decisão de deixar os turistas à espera pode ter sido, paradoxalmente, muito boa para o turismo, ao valorizar simbolicamente a força e originalidade das tradições culturais deste "destino".


Da mesma forma poderia funcionar a existência de certas zonas nas nossas cidades onde os turistas nunca pudessem alojar-se, porque eram zonas tão típicas e tão autênticas que só os locais as poderiam habitar. 


É claro que na lógica primária dos turistólatras e das gentes do negócio fácil, isto seria um ataque ao turismo, a nossa galinha dos ovos de ouro. Numa perspectiva mais estratégica - para além dos fundamentos urbanísticos e sociais da solução -, isto acabaria por ser uma valorização permanente e duradoura do interesse turístico das nossas cidades, logo, um factor real de desenvolvimento do turismo de qualidade. 


Já agora, convém não confundir o conceito "turismo de qualidade" com a utilização perversa (e um bocado bacoca) que a indústria e a comunicação social fazem desta expressão, identificando-a com turismo caro para viajantes ricos. 


Não é a mesma coisa. Pode haver muita falta de qualidade no turismo dos ricos e muita qualidade no turismo de preços mais baixos (estou certo, e apenas para dar um exemplo, que qualquer gastrónomo exigente já deve ter vivido em Portugal experiências que o comprovem). Se o preço fosse medida de qualidade, a viagem turística mais qualificada do momento seria no submarino Titan...


O turismo de qualidade - e isto não tem nada a ver com o preço - é aquele que respeita e não agride, nem prejudica, nem descaracteriza os sítios que visita, antes reconhece e valoriza as características que os tornam únicos e portanto interessantes para serem visitados. 


Como o Porto com os seus balões de S. João que os fizeram esperar nos aeroportos. 

O nosso turismo está a precisar de mais algumas decisões com esta lógica só aparentemente contraditória.

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