Publicado em: O Gaiense, 5 de Julho de 2008
A Câmara de Paris decidiu remunicipalizar o abastecimento de água. A reforma não resulta de uma mudança política no executivo. As recentes eleições municipais foram ganhas por Bertrand Delanoë, o anterior presidente. Na campanha eleitoral propôs a criação de um operador público único que assumisse a responsabilidade por toda a cadeia da água, abrangendo a produção e a distribuição.
Em 2009 expiram os contratos de concessão às empresas Suez e Veolia, que não serão renovados, passando a distribuição, numa primeira fase, para a sociedade de economia mista Águas de Paris, que gere o resto das operações de captação, tratamento e transporte. Em 2011 termina, por sua vez, o contrato desta empresa mista e então os seus 589 funcionários, juntamente com os funcionários que tiver incorporado do sector da distribuição, passarão para uma entidade gerida directamente pela Câmara.
O presidente justifica esta opção com a necessidade de melhor gestão e controlo dos sistemas de abastecimento, conseguindo ganhos de produtividade e garantindo um produto de alta qualidade com um custo controlado e mais estável, uma resposta aos sucessivos aumentos de preço. Um relatório da Assembleia Nacional concluiu que a água tem um preço 33% mais elevado quando os serviços são concessionados a privados. Em Paris os distribuidores privados obtiveram um lucro de 28%.
Não deixa de ser irónico constatar que a remunicipalização se dá no país de onde são originárias as grandes multinacionais do sector da água, que operam também entre nós. Portugal costuma copiar as modas com algum atraso. Ainda estamos na fase das concessões aos privados, àqueles que na sua terra as estão a perder. Paris sempre esteve um pouco à frente...
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