Publicado em: O Gaiense, 16 de Outubro de 2010
A televisão e a imprensa cor-de-rosa da Coreia do Norte exultaram com a apresentação oficiosa do príncipe herdeiro, Kim Jong-un, neto do fundador da dinastia, Sua Majestade Kim I, e filho do actual monarca Kim II.
Apesar de Kim Jong-un ser já um jovem adulto, não era conhecido até agora quem seria o herdeiro do trono, porque a regra sucessória não é automática na monarquia coreana, podendo o líder escolher qualquer um dos seus filhos para o suceder, tendo neste caso recaído a escolha sobre o filho mais novo. Assim sendo, dos demais membros da família pouco se saberá, mas em breve começarão a brotar belos textos biográficos sobre o escolhido para próximo “querido líder”, explicando ao povo que, desde que nasceu, este jovem vinha demonstrando as mais elevadas e ímpares qualidades humanas, militares, técnicas, teóricas, quiçá até poéticas e musicais como seu pai, ardendo de amor à pátria, de devoção ao seu pai e ao avô. Em suma, “o mais fiel sucessor da causa revolucionária de Juche” (a era de Juche, instituída em 1997, tem início em 1912, ano do nascimento do grande líder Kim I).
Não se percebe a ostracização a que tem sido votada esta família norte-coreana por parte das restantes famílias reais, por que razão não são convidados para casamentos e baptizados reais, para os bailes de Monte Carlo. Já há muito tempo que o espírito da realeza se alimentava apenas das suas memórias e das glórias passadas, observando com tristeza um mundo em que cada novo país que conquistava a independência (e foram bastantes nas últimas décadas) optava inexoravelmente pelo regime republicano. Sem a criação de novas monarquias, o ideal de apropriação familiar da chefia dos Estados parecia estar condenado a uma penosa mas natural via de extinção. Esta republicanização do mundo só conheceu uma excepção: a Coreia do Norte. De onde menos se esperava, veio o alento para todos os filhos de reis e rainhas que esperam ansiosamente que os seus pais lhes deixem a desejada herança. Um país moderno, próspero e democrático como a Coreia do Norte, sem que a isso fosse obrigado por imperativos constitucionais, dava o exemplo ao mundo demonstrando a superioridade da transição hereditária sobre a incerteza e a instabilidade das eleições democráticas.
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