Um país sem governo
Publicado em: O Gaiense, 7 de Maio de 2011
Estou a começar a habituar-me a viver sem governo, ou com um mero governo de gestão. E, confesso-vos, ainda não notei que seja um problema. É claro que não estou a falar de Portugal, onde os governos, de gestão ou não, costumam ser sempre um problema. Falo da Bélgica. Aqui, o governo demitiu-se a 22 de Abril de 2010, há mais de um ano, e até hoje continua em gestão corrente. Essa proeza já permitiu ao país entrar no livro de recordes do Guiness.
Das eleições que se seguiram à demissão, em Junho de 2010, resultou um Parlamento federal que nunca conseguiu chegar a um entendimento para formar governo. As negociações devem estar a continuar, mas na comunicação social, após meses de notícias diárias e debates intensos entre os partidos negociantes, já quase nem se fala no assunto. Os jornalistas cansaram-se, o público também.
A Bélgica federal está, assim, paralisada. Mas a Bélgica é um país muito descentralizado, tem cinco Parlamentos e governos regionais ou comunitários que decidem sobre muitas das matérias económicas, de emprego, educação, transportes, habitação ou agricultura. Com uma real contratação colectiva e sindicatos fortes, muitas matérias de protecção social estão mais ou menos cobertas.
Na Bélgica, o FMI e a UE desesperam porque não há um governo que faça as chamadas "reformas estruturais" no mercado de trabalho, nas reformas ou nos impostos. E muitos belgas dizem: bendita crise política, que nos está a poupar ao pior.
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