Publicado em: O Gaiense
Por vezes, ligamos a televisão e não conseguimos de imediato perceber de que país estão a falar. Vemos gente, muita gente, na rua a protestar: o mesmo aspecto, os mesmos cartazes, a mesma polícia a dispersá-los com os mesmos equipamentos e as mesmas técnicas. Esta semana poderia ser em Sófia ou noutras cidades búlgaras, contra a nomeação do novo responsável pela segurança nacional. Ou em São Paulo, no Rio ou alhures no Brasil, por causa do aumento de vinte centavos nos transportes. Ou em Atenas, por causa do fecho da televisão. Ou em Istambul, contra a destruição de um parque para construir um centro comercial.
Como poderia ter sido em Lisboa ou no Porto, por causa de mais uma medida da troika e do governo. Ou em Madrid, contra a austeridade. Ou em Londres, contra o G8. Ou em Nova Iorque, onde se ocupou Wall Street. Ou no mundo árabe, onde a primavera derrubou vários governos.
Em cada caso, o motivo concreto pode ser específico e bem determinado, mas isso é apenas a faísca que incendeia a pradaria. Porque há uma razão comum, muito profunda, que alimenta este reaparecimento massivo dos povos nas ruas das suas cidades, parecendo-se cada vez mais uns com os outros. É uma idêntica e sofrida razão de queixa contra o mesmo sistema iníquo que, apesar das nuances nacionais, tem servido em todo o lado para enriquecer a mesma classe privilegiada à custa da exploração das mesmas vítimas e usando a mesma corrupção.
Por isso, no fundo, somos todos gente da mesma rua. E a televisão está, todos os dias, a ajudar-nos a sentir assim.
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