Publicado em: O Gaiense, 15 de Junho de 2013
Com a troika presente no país para mais uma das suas famosas avaliações, com as macabras exigências que sempre as acompanham, o governo grego decidiu numa manhã que à meia-noite desse mesmo dia acabavam as emissões das televisões e rádios públicas do país. À meia-noite cortou o sinal e mandou para o desemprego 2655 trabalhadores. Para cortar custos, disse o ministro.
Os trabalhadores ocuparam a televisão e continuaram a fazer o seu trabalho, o povo saiu para a rua e envolveu o edifício da ERT (a RTP lá do sítio) com uma massa protectora contra uma possível invasão. Canais privados de rádio e tv asseguram a retransmissão da ERT. Apesar de estes não custarem um cêntimo ao Estado, foram encerrados pela sua ousadia. Numa atitude de grande impacto internacional, a União Europeia de Radiodifusão, a que pertence a RTP, disse que o governo grego estava a exercer a pior forma de censura e forneceu os meios técnicos para a retransmissão internacional da programação que os trabalhadores da ERT continuam a fazer.
É bem possível que a direita grega tenha cometido um fatal erro de avaliação e, com esta atitude, tenha desencadeado o processo de encerramento do próprio governo.
Pode ser que sirva também de lição para Portugal. Lembram-se do que Passos Coelho e Miguel Relvas tentaram fazer com a RTP? Em Maio do ano passado, Passos anunciou a venda a privados até ao fim de 2012 e confirmou Relvas como líder do processo; pouco depois, adiada a privatização, este veio anunciar "um ambicioso processo de reestruturação muito exigente e doloroso". A seguir, foi posto fora do governo e nós ainda temos a RTP. Que, porém, nunca estará segura enquanto a troika andar por cá e tivermos um governo de fanáticos, semelhante ao grego, para executar as suas ordens.
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