Publicado em: O Gaiense, 19 de Março de 2016
Não há memória de um Orçamento de Estado ter sido alvo de tanta polémica, tanto debate e tanta especulação. E contudo, o que este orçamento visa é, tão somente, um mero retorno à normalidade.
Que quem ganha menos possa ser ligeiramente aumentado, que ordenados e pensões há muito contratualizados sejam pagos com respeito por esses contratos, que as pessoas de menos recursos que têm direito à tarifa social de electricidade tenham mesmo acesso à tarifa social de electricidade, que os proprietários de imóveis sujeitos a IMI paguem IMI, quer se chamem José da Silva ou Fundo de Investimento Imobiliário, que no ensino básico, universal e gratuito, os manuais sejam igualmente universais e gratuitos, tudo isso deveria ser visto, há muito, como a perfeita normalidade de uma sociedade decente e desenvolvida. Mas não. Estas evidências normalíssimas são consideradas por sectores passadistas como ousadias irresponsáveis. O que diz muito sobre o estado deplorável a que tínhamos sido reduzidos.
Curiosamente, e numa aparente contradição, este retorno à normalidade está a ser protagonizado por um arranjo político que não era, até agora, considerado "normal", por incluir partidos que se considerava impróprios para responsabilidades governativas (Cavaco dixit). Mas talvez até neste aspecto estejemos, finalmente, a viver um retorno à normalidade democrática.
Verdadeiramente anormal foi o conjunto de malfeitorias a que, como povo, fomos sujeitos nos últimos anos. Às quais nenhum retorno é desejável.
Sem comentários:
Enviar um comentário