Publicado em: O Gaiense, 15 de Novembro de 2008
A Comissária europeia Mariann Fischer Boel anunciou esta semana “o início de uma nova era para os pepinos curvos e as cenouras nodosas” que, juntamente com outras frutas e legumes de boa qualidade, mas com uma forma considerada menos correcta pela paranóia normalizadora de Bruxelas, estavam excluídos do mercado e agora vão poder ser de novo vendidos. É uma boa notícia para as alcachofras, cebolas e todos os seus parceiros de infortúnio. É também uma boa notícia para agricultores e consumidores.
Mas isto vem sobretudo lembrar aos europeus o ridículo em que se transformou uma União essencialmente voltada para a construção do mercado de bens, serviços e capitais. Uma UE que vota solenemente em sessão plenária do seu Parlamento a dimensão dos espelhos rectrovisores dos tractores agrícolas, mas que é incapaz de se pronunciar sobre os salários mínimos ou as pensões ou de fixá-los numa percentagem do salário médio de cada país com o mesmo à vontade com que fixou o diâmetro dos pepinos das nossas saladas.
Pior ainda: quando, por exemplo, um Estado alemão obrigou as empresas que destacam trabalhadores para o seu território a pagarem o salário mínimo, veio a UE dizer que essa uniformização é ilegal porque viola as regras da livre concorrência e afecta a competitividade das empresas que pagam salários abaixo dos mínimos.
Há de facto dois caminhos bem diferentes para a UE: ou se mantém como um regulador económico voltado para o funcionamento do mercado interno e a competitividade ou então optamos por uma Europa de fortes políticas sociais e redistributivas.
Para já, é a primeira que está a ganhar. Mas o jogo ainda nem sequer chegou ao intervalo.
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