Publicado em: O Gaiense, 28 de Abril de 2012
Nas 223
cartas semanais que escrevi para O Gaiense tentei sempre respeitar dois
critérios que atribuí a mim próprio: não fazer crónicas de carácter partidário,
nem de carácter pessoal. Vou tentar hoje manter o respeito por esses
princípios, sem qualquer certeza de o conseguir, pelo que vos peço
antecipadamente desculpa. Não vos falarei do Miguel, com quem partilhei
intensamente o dia a dia destes últimos oito anos, desde que em 2004 ele foi
eleito para o Parlamento Europeu e emigrámos para Bruxelas, para uma intensa
aventura pelos caminhos complexos, e para nós largamente desconhecidos, da
política europeia e internacional. Essa aventura para ele acabou esta semana,
num hospital de Antuérpia, com sua a família vinda de Portugal e com aquela
espécie de pequena família em que se transformou o grupo de camaradas que
partilharam os seus dias europeus.
Prefiro
falar-vos da Europa. Da Europa como o Miguel a via e como ajudou todo o Bloco a
vê-la. Não como aquela coisa estranha e distante que ainda é para a maioria dos
portugueses, mas como a nossa nova casa, onde temos de agir e reagir, sobre a
qual temos responsabilidades como temos sobre o nosso pequeno país. É certo que
não tem sido conduzida por bons caminhos, mas o nosso país também não e não é
por isso que nos desinteressamos dele. Pelo contrário. Se a desgraçada situação
que vivemos é, em grande parte, fruto das escolhas políticas que os cidadãos
europeus têm vindo a fazer, isso significa que tudo pode ser mudado, basta que
os europeus alterem a visão que têm dos problemas que os afectam e se decidam a
enfrentá-los com coragem para os resolver. É um longo e duro trabalho, é certo,
mas é isso que vale a pena. Pelo menos, o Miguel achava que sim. E a isso
dedicou a sua vida.
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