Publicado em: O Gaiense, 21 de Julho de 2012
Está a decorrer na Grécia a Universidade de Verão da Esquerda Europeia, onde mais de 400 pessoas, vindas de todo o continente, de Portugal à Moldávia, de Itália à Finlândia, partilham experiências e ideias, numa semana intensa de debates e seminários.
Num colóquio sobre “A cultura e a crise”, uma actriz grega explicou como a política da troika está a aniquilar por completo o teatro e a televisão nacionais; 95% dos actores estão sem trabalho, teatros fecham um após outro e a produção televisiva foi aniquilada. Para substituir a produção própria, a TV grega importa agora telenovelas turcas baratas, cujas temáticas são bem diferentes das gregas. Um tema recorrente dessas novelas é o da preservação da virgindade das raparigas, encarada como um assunto da família e não das próprias raparigas, algo estranho à cultura grega. Porém, explicou a oradora, os miúdos gregos que assistem às novelas, começam a discutir o assunto e a assimilar uma visão que choca com os valores civilizacionais do seu próprio país.
Na Grécia, podemos assistir à terrível devastação que está a ser provocada na vida social e individual e nos serviços públicos pelas políticas de extorsão massiva dos recursos do país através dos juros exorbitantes e das medidas de austeridade. Na terra que foi berço da cultura e do teatro europeu, o teatro está a ser destruído sob as ordens dos implacáveis funcionários do FMI, do BCE e da Comissão Europeia, ao serviço dos mercados financeiros. Mas esta peça está longe de estar terminada, e o povo grego não desistiu de escrever ele próprio as próximas cenas.
Sem comentários:
Enviar um comentário