“À terceira cai quem é burro”


Publicado em: O Gaiense, 14 de Julho de 2012

O primeiro-ministro espanhol, eleito há poucos meses com a promessa de não aumentar impostos, acaba de aumentar os impostos e de cortar nos subsídios de Natal e de desemprego. Mariano Rajoy, que disse na campanha que “subir o IVA é um disparate, que trará mais crise e mais desemprego”, acaba de subir o IVA. O mesmo que disse que não tocaria na saúde, na educação e nas pensões, acaba de cortar em todos esses sectores. O governante que disse que a Espanha receberia dinheiro da troika sem ter de se submeter a um programa de austeridade, acaba de aceitar um programa de austeridade igual ao nosso. O homem que negociou um empréstimo até 100 mil milhões para salvar a banca, recusa uma pequena fracção desse valor para salvar regiões inteiras que vivem da actividade mineira.

Espanhóis como portugueses tinham eleito governos socialistas que, chegados ao poder, fizeram o contrário do que tinham prometido. Espanhóis como portugueses, desiludidos ou furiosos, decidiram correr com os socialistas elegendo governos de direita que prometiam fazer tudo diferente. Novamente viram rasgados os compromissos eleitorais depois de contados os votos. Há um ditado popular que diz: “à primeira, quem quer cai; à segunda, cai quem quer; à terceira, cai quem é burro”.

Das minas das Astúrias até às Puertas del Sol, das nossas terras do interior, onde se eliminam um a um os serviços públicos, até às praças de Lisboa, onde se junta todo o tipo de vítimas das políticas de destruição em curso, parece haver dois povos irmãos a dar sinais de que à terceira talvez não caiam. Mas, para não sermos os burros do ditado, há que preparar com antecedência uma nova solução política, forte, bem pensada e ganhadora, que nos tire deste túnel infernal com vista para o abismo em que estes governos nos meteram. Fazê-lo lado a lado, portugueses e espanhóis, poderá tornar as coisas um pouco mais fáceis.


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