Publicado em: O Gaiense, 11 de Agosto de 2012
Mario Monti, numa entrevista dada esta semana ao Der Spiegel, alerta para o perigo de os governos se deixarem comprometer totalmente pelas decisões dos seus parlamentos, sem guardar para si uma margem de manobra. Os parlamentos, cujas dóceis maiorias têm vindo a aceitar tudo o que é inaceitável, até esses agora preocupam o primeiro ministro italiano, logo ele que acedeu ao cargo sem se submeter a uma eleição, e que nele se mantém apenas porque tem o consentimento do parlamento.
O controlo político e algumas decisões dos parlamentos podem limitar a margem de manobra dos governos, mas é exactamente para isso que foram criados. Se o despotismo iluminado dos homens de mão do Goldman Sachs e dos mercados financeiros que exercem funções governativas ainda é, por pouco que seja, travado pelas regras da democracia, pelos parlamentos e pela opinião pública, só temos a felicitar-nos com isso e apenas lamentar que não o façam de forma mais decidida e eficaz.
É certo que num jogo de futebol em que não houvesse regras nem árbitros, os jogadores poderiam mostrar sem constrangimentos a sua criatividade e iniciativa, e certamente haveria muitos mais golos. Mas duvido que os leitores estivessem interessados em ir ao estádio contemplar tal espectáculo. Da mesma forma, essa economia sem regras nem árbitros que o grande capital quer hoje construir na nossa Europa, poderia ser a grande oportunidade para alguns fazerem fortuna, mas seria seguramente um sítio onde muito poucos gostariam de viver.
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