Publicado em: O Gaiense, 9 de Fevereiro de 2013
Uma delegação do Conselho Internacional de Trabalhadores Portuários veio a Estrasburgo alertar os eurodeputados para uma terceira tentativa da Comissão para desregular o sector dos portos. Falaram de Portugal, das medidas do governo e da resistência exemplar dos nossos "dockers". Mas relataram com especial detalhe a situação que se vive no estratégico e histórico porto do Pireu, perto de Atenas, desde que dois dos três terminais de contentores foram concessionados à empresa estatal chinesa China Ocean Shipping Company, permitindo-lhe exonerações sociais e isenções fiscais que não são aplicadas sequer no terminal um, ainda gerido pelo Estado grego, provocando grosseira distorção da concorrência dentro do mesmo porto. À boa maneira chinesa, ali não há acordos colectivos, os sindicatos não entram, os horários aumentam, as equipas são mais reduzidas para as mesmas tarefas, mão-de-obra barata e sem formação profissional é preferida.
Lado a lado, no Pireu, sob o olhar atento da troika, há dois modelos sociais em concorrência. O modelo chinês é o sonho da direita e dos empresários gregos, como de muitos dos seus congéneres europeus: poder, finalmente, produzir na Europa ao preço da China, voltar a ter perto de casa todas as vantagens de que gozam hoje as suas fábricas deslocalizadas para o outro lado do mundo. Reindustrializar a Europa, mas de forma "competitiva". Eis um grande desígnio da burguesia europeia.
Precisa é de alterar o sistema político em conformidade, que isto de haver governos e parlamentos eleitos, sempre dependentes da instabilidade do voto popular, haver direitos sociais e liberdades é altamente nocivo para o ambiente dos grandes negócios. Por isso os primeiros ensaios do actual modelo neoliberal foram feitos no Chile de Pinochet. Mas a solução chinesa está a mostrar-se bastante mais eficaz e duradoura.
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