Publicado em: O Gaiense, 26 de Setembro de 2009
Um documento de trabalho (working document), publicado esta semana pela Comissão Europeia, faz um retrato demolidor da falta de transparência do sector bancário na UE, considerando-o muito opaco e tornando quase impossível para os clientes perceberem bem o que estão a pagar e porquê, muitas vezes sendo conduzidos a opções mais caras e menos vantajosas, incapazes de as compreender e comparar com as propostas dos bancos concorrentes.
A falta de clareza nos instrumentos de informação dos bancos para o público é tal que nem os competentes especialistas encarregados de fazer este estudo europeu conseguiram entendê-los e, em dois terços dos casos estudados, tiveram mesmo de contactar pessoalmente os bancos para conseguir compreender os custos reais dos serviços publicitados, apesar da obrigatoriedade de eles estarem claramente expressos na informação pública.
Num sector que viveu e ainda vive uma crise motivada pela intencional complexidade e opacidade de produtos financeiros duvidosos, que assim eram transacionados sem que os compradores compreendessem que estavam a comprar gato por lebre, num sector que recebeu ajudas astronómicas de dinheiro dos contribuintes para tapar os buracos dessas fraudes, é chocante constatar que algo mudou apenas para que tudo continue na mesma.
Considerou a Comissão que os princípios básicos de direito dos consumidores continuam a ser violados através de encargos escondidos e de complexidade exagerada na apresentação dos preços. Seria necessária uma mudança na própria cultura do serviço bancário e um reforço da transparência do sistema, um dos sectores mais opacos da economia mundial, um daqueles que mais jus faz à velha máxima “o segredo é a alma do negócio”. Alma que está frequentemente vendida ao diabo.
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