Publicado em: O Gaiense, 12 de Junho de 2010
Na quarta-feira a Holanda foi a votos, no domingo será a vez da Bélgica. O que nos dizem, com os seus votos, estes países?
O que disse a Holanda não é fácil de entender, nem mesmo para os analistas holandeses. Nenhum partido obteve maioria absoluta, o que é normal naquele país. Os democratas-cristãos de Jan Pieter Balkenende – o actual primeiro-ministro, que fez quatro mandatos sucessivos –, ficaram em quarto lugar, atrás de um partido de extrema-direita cujos militantes usam uma braçadeira nazi. O primeiro-ministro demitiu-se e nem sequer vai assumir o lugar no Parlamento.
Com a diferença de apenas um deputado, os Liberais ganharam aos Trabalhistas. Se as negociações lhe correrem bem, Mark Rutte será o primeiro chefe de governo liberal desde a Primeira Grande Guerra. Já afirmou que vai fazer cortes na protecção social e no apoio à integração dos imigrantes.
Receosos e confusos, os holandeses responderam aos conturbados tempos de crise com uma profunda alteração das suas opções eleitorais. Há fortes indícios de que, no próximo domingo, os belgas poderão fazer algo semelhante.
Os povos tentam reagir à crise sem fazerem uma conexão clara entre a crise económica e as opções políticas. Predomina a ideia de que a crise é algo do mundo da economia, um mundo que não podemos controlar e cujos efeitos estamos condenados a sofrer. Assim sendo, a política só poderia fornecer alguns calmantes ou analgésicos, para podermos aguentar melhor a espera pelo momento em que a economia consiga resolver os problemas. Esta visão é absolutamente fatal.
Porque a crise é o resultado de um certo modo de funcionamento da economia, permitido e até impulsionado pelo poder político. Foi porque deixamos que os interesses dominantes no mundo da finança dominassem também os corpos legislativos e executivos dos Estados, que a política se tornou impotente para enfrentar a crise.
A crise é económica, mas só poderá ter uma saída política. Para que os políticos assumam esse papel, precisam do voto popular. O problema é que o povo está a dar o seu voto precisamente aos políticos que consideram que não podem intervir na economia, isto é, aos partidos que continuam a dar-nos aspirinas para combater o cancro, deixando que este continue a progredir. Quando a situação se agravar, pode ser tarde de mais para repensar o voto.
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