A guerra de Troi(k)a






Publicado em: O Gaiense



Quando muitos pensavam que já nenhuma nova notícia do martírio grego os poderia chocar, eis que os media europeus se agitam com a publicação no Jornal Oficial da União Europeia dos montantes relativos à venda de equipamento militar à Grécia em 2010. Enquanto estavam a obrigar os gregos à mais penosa austeridade e a cortes cegos na despesa pública como contrapartida para aprovarem o primeiro bail-out, os países da UE vendiam à Grécia mais de 1054 milhões de euros de equipamento militar.

Já tinha sido noticiado há algum tempo o escândalo do contrato relativo a seis submarinos. O mesmo fornecedor alemão dos submarinos vendidos a Portugal foi processado por corrupção e pagamento de milhões de euros em luvas e o presidente da empresa teve de demitir-se. Mas a Grécia foi na altura “convencida” pela Alemanha a não cancelar os contratos.

Apesar de a situação económica se ter deteriorado brutalmente logo a seguir, novos negócios acompanharam a imposição externa dos planos de austeridade: só em 2010 (em plena crise), a França vendeu à Grécia 876 milhões de euros em equipamento militar, a Alemanha 36, a Espanha 33, a Itália e a Holanda mais de 53 milhões cada. São aviões, mísseis, canhões, metralhadoras, carros de combate e transporte e até material para guerra química. Um antigo vice primeiro-ministro grego afirmou que tinha sido uma “vergonha nacional” terem sido forçados a comprar armas de que não necessitam. A Grécia é o maior importador de armamento convencional da UE.

Este escândalo da venda de armas à Grécia nem sequer precisou da Wikileaks para ser revelado: basta ler o Jornal Oficial da União Europeia. O que pode espantar é a revolta dos gregos, que conhecem estes factos, ser ainda tão moderada.




[Pode consultar estes dados em mais detalhe no Jornal Oficial da UE, pág. C 382/116 e seguintes]



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