Publicado em: O Gaiense, 22 de Setembro de 2012
As manifestações do último sábado tiveram enorme impacto na Europa, onde foram largamente noticiadas. Pareceu-me que houve sobretudo uma reação de surpresa. Então Portugal não era o caso de sucesso que apresentavam sempre em contraste com o falhanço da Grécia? O exemplo do consenso político e da paz social? Do povo que aceitava resignado as medidas da troika, liderado firmemente por uma turma governamental de bons alunos?
O surgimento inesperado do povo português na cena política gerou imediatas acções de solidariedade. No campo popular e nos meios de esquerda europeus foi saudado com entusiasmo. Fomos solicitados para explicar a situação política de Portugal e recebidos com ouvidos atentos, olhares de esperança e palavras de solidariedade.
Do outro lado, no mundo da troika e dos que impõem os planos de austeridade, houve também imediatas acções de solidariedade. O Ministro dos Negócios Estrangeiros alemão, Guido Westerwelle, encheu de elogios Paulo Portas por este ter ido à Alemanha garantir a continuação do programa, apesar dos protestos. E o Ministro das Finanças Wolfgang Schäuble, de forma algo patética, disse que Vitor Gaspar é “o homem certo, no lugar certo, no momento certo” e que “as reformas se estão a levar a cabo mais rápido que o esperado”, com “resultados encorajadores”.
Está certo. Ser insultado nas ruas de Portugal e elogiado em Berlim, tal é o estado natural de quem aplica contra os portugueses as receitas da capital e do capital da Alemanha. Por razões semelhantes, Miguel de Vasconcelos foi um dia defenestrado neste país de brandos costumes.
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