Publicado em: O Gaiense, 1 de Setembro de 2012
Participei esta semana na universidade de verão do Front de Gauche, em França, e pude constatar que, apesar das dificuldades do povo francês não serem ainda comparáveis às nossas, o entusiasmo e a determinação para a luta contra as imposições de Bruxelas ou de Berlim parecem bastante superiores aos que se sentem por cá.
Os apelos dos dirigentes do Front de Gauche, com especial destaque para Jean-Luc Melenchon, ex-candidato presidencial, são para uma verdadeira revolução cidadã, uma insurreição cívica do tipo da que ocorreu em 2005, quando o povo francês se levantou contra o projecto de Tratado Constitucional Europeu, defendido pelo presidente, pelo parlamento, pelo governo, por todos os principais partidos, mas que acabou rejeitado pelo povo em referendo, na sequência da maior campanha de mobilização e informação alguma vez realizada sobre política europeia.
O povo francês é dos povos mais politizados do mundo e mostrou-o bem nessa altura pela participação massiva e interessada em milhares de debates, nas grandes cidades como nas pequenas aldeias. Que outro povo poderia ter feito de um longo e árido tratado jurídico o top de vendas nas livrarias, destronando o Harry Potter?
É este povo que é hoje chamado a derrotar o novo "tratado orçamental", que tenta constitucionalizar a proibição de qualquer política social anti-cíclica com a chamada regra de ouro do défice estrutural, o mesmo tratado que foi aprovado de forma vergonhosamente apressada pela nossa Assembleia da Republica mas que, apesar de imposto aos outros países por Merkel e Sarkozy, ainda não foi ratificado na França nem na Alemanha, o que torna a posição de Portugal ainda mais ridícula e vexante.
Mesmo a pedir uma revolução cidadã à portuguesa.
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