Troika tintas




Publicado em: O Gaiense, 8 de Setembro de 2012

No final da reunião dos parceiros sociais com a troika, em que estiveram em cima da mesa os péssimos resultados do programa no que respeita não só já ao desemprego, mas também relativamente ao próprio défice, que seria a razão de ser da austeridade, os representantes das associações patronais e sindicais mostraram-se estupefactos por terem ouvido os senhores da troika dizer que “este Memorando não é da troika, é de Portugal”.

Pelos vistos, eles teriam vindo a Portugal só para ajudar e o governo português teria comunicado que desejava levar à prática a imensa e detalhada série de medidas que hoje dolorosamente conhecemos. Curiosamente, o governo grego ter-lhes-ia proposto também uma lista de medidas e, coincidência das coincidências, eram exactamente as mesmas. A Irlanda não andou longe e o governo espanhol estará já a escrever um Memorando em tudo semelhante, que será de Espanha e não da troika. É mera coincidência também a semelhança com as medidas impostas pelo FMI noutras regiões do mundo, com os resultados igualmente brilhantes que a história registou.

Na Grécia, onde se vive o futuro de Portugal com um ano de antecedência, a troika propôs que se trabalhe ao sábado (com o mesmo ordenado), que um dia de descanso chega e sobra para gregos em crise. Quando vierem impor o mesmo aqui, dirão certamente que foi uma ideia de Portugal. E o domingo? A que propósito é que as pessoas hão-de manter o hábito tão pouco produtivo de parar o trabalho ao domingo? Preguiçosos, é o que são. Os padres que celebrem as missas em horário pós-laboral, que o povo tem mais é que trabalhar para pagar, no prazo marcado, os milhões e milhões de juros dos empréstimos da troika.

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