A máquina de fazer mentirosos




Publicado em: O Gaiense, 13 de Outubro de 2012

A França acaba de ratificar o Tratado orçamental com o patrocínio de Hollande e do PS. O mesmo Hollande que foi eleito presidente fazendo uma campanha centrada na crítica a esse Tratado, denunciado o seu conteúdo de austeridade, afirmando solenemente que o “renegociaria privilegiando o crescimento e o emprego e reorientando o papel do Banco Central Europeu”.  Há muitos eleitores de Hollande escandalizados, desiludidos, revoltados.

Como vemos, o nosso primeiro-ministro, tão claro antes de ser eleito a pregar o contrário do que hoje pratica, não é um caso isolado. O que fará com que os políticos europeus do chamado arco da governação, um após outro, se façam eleger com propostas políticas que renegam totalmente sem qualquer vergonha logo que chegam ao poder? Terão todos uma deformação congénita de carácter? Terão consciência de que, se revelassem antes o seu verdadeiro programa, nunca seriam eleitos? O que os impele tão fortemente a desprezarem por completo os seus crédulos eleitores?

É verdade que, uma vez eleitos, entram numa engrenagem europeia toda ela construída segundo o princípio de que o projecto de transformação em curso é demasiado importante para estar sujeito a percalços eleitorais ou referendários e às veleidades de uma soberania popular que, se por hipótese absurda tivesse de ser respeitada, abalaria fatalmente o interesse supremo dos mercados financeiros. Nesta terrível máquina de fazer mentirosos, os políticos podem até entrar um pouco diferentes uns dos outros, mas saem todos iguais. Temos de reconhecer que o combustível que faz andar esta máquina é realmente poderoso. Mas as ruas da Europa têm mostrado que há forças para o derrotar.

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