Publicado em: O Gaiense, 1 de Março de 2013
As eleições desta semana deixaram a Itália e a Europa ainda mais baralhadas. A grande derrotada foi a política de austeridade, que viu o seu apóstolo local, o atual primeiro-ministro, reduzido a 10%. Mario Monti, rosto do Goldman Sachs em Bruxelas e rosto de Bruxelas em Itália, teve uma resposta clara da cidadania. Com o seu habitual fairplay democrático, Bruxelas já veio avisar que, apesar do voto, a política de austeridade é para continuar (quem é que os italianos pensam que são para estarem a definir qual é ou deixa de ser a política para o seu país?).
A Itália é vítima de um estapafúrdio sistema eleitoral, recentemente redesenhado por Berlusconi, que é suposto resolver impasses com algumas batotas mas que, desta vez, nem isso conseguiu fazer. As principais distorções da expressão de vontade dos eleitores são conseguidas à custa de limiares mínimos para a obtenção de assentos (10% para coligações, 4% para partidos, com algumas variantes mais complexas) e sobretudo de um generoso prémio ao vencedor, que fez com que a coligação de Bersani, com 29,54%, ficasse com 345 lugares e a coligação de Berlusconi, com uns muito semelhantes 29,18%, apenas com 125. Virou-se o feitiço contra o feiticeiro.
A coisa complica-se porque há ainda o Senado, com poderes muito semelhantes à Câmara dos deputados, mas com um sistema de batota diferente: região a região, ao partido que ficar à frente, qualquer que seja a sua percentagem, dão-lhe 55% dos lugares. E Bersani não dominou o Senado.
Quanto mais conheço os sistemas eleitorais na Europa, mais aprecio o sistema português: muito simples, relativamente proporcional, claro para os eleitores. Espero que os engenheiros de maiorias artificiais que por cá também existem, cheios de argumentos e apetite aguçado, nunca consigam destruí-lo.
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