Cortar na despesa




Publicado em: O Gaiense, 13 de Abril de 2013

O momento é de cortar na despesa, dizem o governo e os seus amigos europeus. A ideia parece razoável, o problema é que se corta no que não se deve e não se corta naquilo que se pode e deve cortar. Vejamos apenas um exemplo, a vários títulos chocante, da hipocrisia europeia nesta matéria: os juros da dívida.

Segundo o Ministério das Finanças, vamos pagar à troika 34 400 milhões de juros pelo empréstimo, dos quais 7 400 milhões em 2013. Os empréstimos do Fundo Europeu de Estabilização Financeira (FEEF) ou do Mecanismo Europeu de Estabilidade (MEE) têm uma maturidade média de 12 anos, a uma taxa de juro média ao longo do prazo um pouco superior a 4%. O FMI cobra ainda mais pela sua parte.

Acontece que o Banco Central Europeu (BCE), instituição da União Europeia e elemento preponderante da troika, tem como tarefa fixar a taxa de juros europeia, que é o preço que cobra pelos empréstimos que faz aos bancos, nomeadamente aos bancos privados, portugueses incluídos. E esta taxa é de 0,75%.

Se a troika está tão empenhada em cortar na despesa em Portugal, deveria começar por dar o exemplo, cortando na despesa que ela própria nos provoca. E não precisamos de borlas. Se o Estado português pagar a mesma taxa que pagam os privados que vão buscar dinheiro ao BCE, e não cinco vezes mais, não será preciso fazer qualquer corte nos sectores que Passos Coelho escolheu como vítimas:  educação, saúde, segurança social e serviços públicos.

Baixando os nossos juros para a taxa de referência europeia, a poupança só este ano seria superior à soma do que o governo quer cortar devido ao acórdão do Tribunal Constitucional mais os cortes previstos no Estado social para os próximos anos. E não se destruía a economia e o emprego.

Os nossos problemas talvez sejam mais fáceis de resolver do que nos querem fazer crer.




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