Publicado em: O Gaiense, 10 de Maio de 2008
A minha outra Câmara Municipal (a minha vida está hoje repartida entre Gaia e Bruxelas) acaba de decidir, por unanimidade, proibir os Mosquitos em todo o seu território. Não se trata obviamente dos irritantes insectos, que não se erradicam por deliberação do executivo. “Mosquito” é o nome de uma nova arma de combate a adolescentes considerados indesejáveis, lançada no Reino Unido pela Compound Security Systems. Trata-se de um aparelho electrónico que emite sons de alta-frequência extremamente desagradáveis, mas que são ouvidos apenas por pessoas até aos 20-25 anos. O aparelho auditivo dos adultos é insensível àquelas ondas. Está a ser um sucesso de vendas e é utilizado para evitar a concentração de jovens em espaços públicos, mas também para correr com eles de espaços comerciais onde são considerados clientes pouco rentáveis. A empresa publicita-o como «a solução para o eterno problema dos ajuntamentos indesejáveis de jovens que afectam os lucros» e como uma solução eficaz contra «o comportamento anti-social que se tornou a maior ameaça à propriedade privada na última década».
Os vereadores consideraram-no um instrumento violento que ofende os direitos humanos. Apelaram ao governo belga e à Comissão Europeia para que decretem também uma interdição geral. Até porque há dúvidas sobre os efeitos que pode ter na saúde, sobretudo de crianças e bebés. Em França, há já processos em Tribunal contra o Mosquito. Ao contrário, o governo de Sua Majestade já disse que a proibição não está nos seus planos.
Depois da introdução na Europa das pistolas Taser de descargas eléctricas que, segundo a Amnistia Internacional, já provocaram mais de 200 mortes nos EUA e Canadá, a tecnologia de ponta continua a servir a paranóia securitária que vai minando a nossa forma civilizada de vida.
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