Publicado em: O Gaiense, 2 de Abril de 2011
Surpreende-me que a expressão “ameaça da ajuda externa” esteja a ser utilizada como se fosse lógica e normal. Penso que, em bom português, uma ajuda é algo que se dá, ou se promete, mas nunca algo com que se ameaça. Ameaça-se com uma faca, um castigo, uma guerra. Ameaçar com uma ajuda não faz sentido; ou se ameaça ou se ajuda, e esta disjunção é exclusiva.
Penso que é de ameaça que verdadeiramente se trata. Quem não conhece, do cinema e da vida, a cena clássica do homem rico que se dispõe ajudar uma jovem rapariga em dificuldades financeiras, ajuda que ela vê como uma ameaça, porque sabe como acaba a história. É esse também o carácter do FMI, sempre em busca de vítimas em dificuldades para poder “ajudar” e conseguir cedências que ninguém aceita em condições normais. Ceder em quê? O que pretendem eles? O nosso património a preço de saldo (privatizações). Melhores condições de exploração dos nossos trabalhadores (alteração de leis laborais). Menos redistribuição de rendimentos (cortes nos serviços públicos e nas prestações sociais).
Um olhar para as anteriores vítimas da “ajuda” pode ser muito esclarecedor. Lula da Silva, esta semana em Portugal, lembrou a experiência dolorosa do Brasil: “o FMI sempre criou mais problemas do que soluções”.
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