Publicado em: O Gaiense, 16 de Abril de 2011
O referendo na Islândia não teve em Portugal o destaque que merecia, sobretudo pelas lições que pode trazer para lidarmos com a nossa própria crise. O que os islandeses rejeitaram foi pagar o buraco de uma espécie de BPN lá do sítio. Especuladores estrangeiros jogaram as suas economias num banco privado que prometia online juros muito acima do mercado. Enquanto foram ganhando, meteram o dinheiro ao bolso. Quando aquela Dona Branca da internet estourou, exigiram que os contribuintes islandeses os indemnizassem.
Para evitar descontentamentos, os governos da Holanda e do Reino Unido pagaram os prejuízos dos especuladores dos seus países e tentam cobrar da Islândia esse valor. Com a força da sua pressão sobre um pequeno país, conseguiram fazer aprovar um plano de pagamento de 3,8 mil milhões de euros. Mas uma petição popular obrigou a que a decisão fosse referendada e o plano acabou recusado. Então, o tal plano que não tinha alternativa foi substituído por outro mais favorável, baixando o juro de 5,5% para 3,2% e estendendo o prazo para 30 anos, começando a pagar apenas em 2016. Mas o presidente da República entendeu ouvir o país em referendo e este plano também não passou.
Com a simples coragem e lucidez de rejeitarem o primeiro plano, os islandeses conseguiram rever drasticamente em baixa as suas condições. E, com a rejeição desta segunda versão, dão uma verdadeira lição às vítimas de planos agressivos de reestruturação, mostrando que só são inevitáveis se os povos os aceitarem passivamente. É o “perigoso” efeito de contágio deste exemplo que o silêncio dos media quer evitar?
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