Publicado em: O Gaiense, 17 de Dezembro de 2011
A última reunião do Conselho Europeu foi apresentada, com todo o dramatismo, como absolutamente decisiva para resolver a crise, a última e irrepetível chance de encontrar uma solução. Curioso é que o mesmo já tenha sido dito da anterior, e da anterior a ela. Como se dirá certamente da próxima. Há anos que não temos senão cimeiras decisivas para atacar a crise - sejam da UE, sejam do G8, do G20, das Nações Unidas para o Clima – onde nada de fundamental se decide, e a vida continua, de mal a pior. Mas o erro pode estar na expectativa de que será em cimeiras dos que provocam as doenças que se vai encontrar a cura.
Se a cumplicidade de David Cameron com os interesses financeiros da City de Londres foi frontalmente assumida por ele como razão para rejeitar a alteração aos Tratados, as imposições do eixo franco-alemão não estão menos ao serviço de semelhantes interesses, simplesmente servem os do lá de cá da Mancha. Vale tudo para tentar apaziguar os mercados. Ora, os ameaçadores “mercados” são entidades concretas (muitas delas europeias): são as empresas financeiras e os fundos que compram e vendem de forma especulativa acções, moeda e títulos das dívidas soberanas e que transacionam, à velocidade de um clic, ficções derivadas destes títulos em montantes muitas e muitas vezes superiores aos valores dos PIB dos países mais ricos, assentando aí o seu poder arrasador. Enquanto estes interesses continuarem a ser vacas sagradas para as formatadas cabeças dos líderes europeus (e portugueses), não será de esperar que qualquer solução real para a crise possa emergir de uma reunião do Conselho ou do Banco Central Europeu.
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