Publicado em: O Gaiense, 10 de Dezembro de 2011
Terminaram as negociações para a formação do governo belga resultante das eleições de Junho de 2010. O partido que ganhou, da direita separatista flamenga, não participa. O primeiro-ministro será socialista. No congresso que o PS (como os outros partidos que integram o acordo de governo) teve de fazer para aprovar o acordo, cantou-se A Internacional de punho no ar e as televisões mostraram que, contrariamente ao habitual, o presidente Elio Di Rupo se manteve estático, assumindo uma afastada postura de primeiro-ministro. Mau sinal, disseram alguns.
Mas, no discurso de apresentação oficial do governo, comprometeu-se a manter a indexação automática dos salários à inflação, sistema muito contestado na UE; disse também que o combate pelo emprego e pela repartição da riqueza não pode ser ganho numa sociedade dominada pela especulação, onde algumas pessoas ganham penosamente 1200 euros em certas empresas, enquanto outras acumulam fortunas comprando e vendendo acções dessas mesmas empresas. Assim não dá! – disse ele – assumindo que uma regulamentação apropriada do sector financeiro será uma das prioridades do novo governo.
Apesar das belas palavras, os sindicatos, mesmo os ligados ao PS, desconfiam. É que, se muitos belgas ficaram aliviados por terem finalmente governo, sabem também que foram poupados a planos de austeridade porque não havia governo para os impor e temem que agora eles cheguem também à Bélgica. Essa a razão por que realizaram, na semana passada, uma enorme manifestação “preventiva” contra as medidas que podem vir com o orçamento do novo governo. Nisso, os belgas são mais duros e organizados do que os portugueses: lutam antes que o pior lhes aconteça; nós reagimos tarde e nem sempre com o vigor necessário.
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