Os eurodeputados e “o circo de Estrasburgo”



Publicado em: O Gaiense, 18 de Fevereiro de 2012


Na quinta-feira (16-02-2012) teve lugar um voto de grande simbolismo no Parlamento Europeu. No âmbito das orientações para o orçamento de 2013, foi aprovada por 329 votos, contra 223 e 29 abstenções uma emenda que dizia que é possível realizar economias reais mais importantes se o Parlamento Europeu tiver uma sede única; insta, por conseguinte, a que a situação seja avaliada sem demora.”
Refere-se àquilo que é chamado na gíria europeia o “circo de Estrasburgo”, a migração mensal do PE para aquela cidade (a 450km de Bruxelas), no que é considerada a mais inútil e absurda aberração da UE. Em Bruxelas existe um hemiciclo onde se realizam parte das sessões plenárias. Mas, todos os meses, transferem-se os deputados, funcionários, assistentes, intérpretes, contínuos, motoristas, mais uma vasta equipa da Comissão Europeia e outra do Conselho, para fazerem em Estrasburgo o que costumam fazer em Bruxelas. Eu tenho em Estrasburgo um gabinete com cadeiras, secretária, móveis, computador, impressora e telefone, que uso três dias por mês. Eu e mais uns milhares. Para além dos custos de investimento, da emissão de 19 mil toneladas de CO2 por ano e da penosidade física para os participantes, esta operação inútil traz um acréscimo anual de despesa de 180 milhões de euros.
PS, Bloco e PCP votaram com a maioria, a favor da emenda. O que não deixa de ser surpreendente é que do PSD e CDS — lusos apóstolos da austeridade total e dos cortes na despesa pública, mesmo quando se trata de serviços essenciais — só tenha havido votos a favor da manutenção do “circo”, com a honrosa excepção da açoriana Maria do Céu Patrão Neves, talvez devido à sua formação como professora de Axiologia e Ética. Aqui fica a sugestão de que organize umas aulas sobre a matéria para dar aos seus colegas nos longos serões de Estrasburgo.

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