Publicado em: O Gaiense, 11 de Fevereiro de 2012
A polémica gerada pelas declarações de Angela
Merkel sobre a Madeira gerou um tal ruído que acabou por abafar o essencial do
que ela disse, que no entanto é tão ou mais grave do que o insulto à Madeira.
Recuperemos a frase: “Decidimos, no
último Conselho, que as verbas ainda disponíveis até 2013 de Fundos Estruturais
devem ser utilizadas para ajudar as pequenas e médias empresas e não para
construir mais estradas, pontes e túneis.”
É de facto exagerada a
fatia dos Fundos Estruturais atribuída à construção de “estradas, pontes e
túneis” pelo governo de Jardim, como fez a seu tempo no resto do país o governo
de Cavaco. O balanço negativo desta obsessão pelo “betão” é já um adquirido em
Portugal e na Europa. Até porque os Fundos Estruturais têm como objectivo
programático “contribuir para a promoção
de um desenvolvimento harmonioso, equilibrado e sustentável das actividades
económicas, o desenvolvimento do emprego e dos recursos humanos, a proteção e
melhoria do ambiente, a eliminação das desigualdades, bem como a promoção da
igualdade entre homens e mulheres.” Devem portanto financiar múltiplos
projectos abrangendo todas estas áreas de uma forma equilibrada.
Mas não é isso que defendeu
Merkel. O que ela contrapõe — desviar os Fundos para as empresas — é tão grave
e unilateral como a opção jardinista. Se a construção de infraestruturas claramente
não basta para atingir os objectivos para que foram criados os Fundos
Estruturais, muito mais afastados ficariam esses objectivos com o “ultraliberalismo”
e a “gritante insensibilidade social” (Jardim dixit) da proposta da chanceler alemã, que seria, além do mais, de muito
duvidosa legalidade europeia.
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