A outra Europa




Publicado em: O Gaiense, 31 de Março de 2012

Reúne este fim de semana em Bruxelas (na sede da Confederação de Sindicatos Cristãos) uma Cimeira Europeia Alternativa. Vindos de Portugal e dos quatro cantos da UE, e também da Europa não comunitária, juntam-se durante dois dias deputados nacionais, investigadores e académicos, sindicalistas, fundações e movimentos sociais, eurodeputados e membros de partidos europeus. Este megaencontro tem como objectivo coordenar posições e dar mais força à alternativa política que os participantes propõem aos cidadãos europeus como saída da crise.

É abundante a literatura que circula na Europa com propostas alternativas de governação, aprofundadas até por sector com razoável detalhe: política económica, finanças, serviços públicos, saúde, educação, segurança social, legislação do trabalho, cultura, internet, comércio internacional, orçamento e política europeia, etc. A crítica da situação actual no fundamental está feita e é partilhada por uma população largamente descontente com o status quo. As alternativas existem. O que falta então para sairmos deste beco a que fomos conduzidos pelas actuais lideranças e darmos um novo rumo às nossas sociedades? Essa é a principal questão em debate.

Falta certamente conhecimento popular dessas alternativas e sobretudo reconhecimento das forças capazes de as levar à prática. Falta confiança e coragem para mudar.

Estudos realizados em alguns países mostram que, por vezes, os que nada têm (e nada têm a perder, portanto) apresentam tanto receio de mudar como os grandes beneficiários das actuais desigualdades, para os quais a mudança para uma sociedade mais justa seria de facto um prejuízo. Pode ser estranho, mas é também com estes paradoxos que se tece a sociedade, e eles vão adiando as soluções... Mas, como Camões há muito dizia e os portugueses comprovaram em 74, “todo o mundo é composto de mudança, tomando sempre novas qualidades.”

[ Mais informações em: http://www.european-left.org/ ]

Primavera proibida





Publicado em: O Gaiense, 24 de Março de 2012


Começou a primavera, mas ainda não foi para todos. No domingo fui à capital do Curdistão turco, a antiga cidade de Amed - que os turcos chamam Diyarbakir -, nas margens do rio Tigre, perto das conturbadas fronteiras com o Iraque e a Síria, para assistir à celebração do Newroz (literalmente: novos dias), uma grande festa de tradição multimilenar em vários países da Ásia, que celebra o fim do inverno e a chegada da primavera.

Quando cheguei informaram-me que a administração turca tinha proibido a comemoração. Talvez porque há várias décadas que os curdos manifestem nesta passagem do inverno para a primavera a expressão do seu desejo de passar dos difíceis dias de opressão política e cultural em que vivem para uma verdadeira primavera de liberdade e democracia. O Parque Newroz, para onde estava prevista a concentração, foi bloqueado por um apetrechadíssimo aparato policial e foram cortadas todas as ruas de acesso. Na véspera já tinham confiscado a aparelhagem sonora instalada no palco.

Mas nem esta poderosa força de bloqueio foi capaz de suster a avalanche de famílias que fizeram questão de manter a sua tradicional comemoração. Homens, crianças e mulheres, envergando os seus trajes de festa plenos de brilho e de cor, ultrapassaram todas as barreiras policiais e juntaram-se no parque. Um milhão de pessoas - dizem várias estimativas. Foi uma impressionante manifestação de coragem e determinação, como não via há muito tempo. Uma luminosa demonstração de que nem toda a violência da repressão poderá parar a marcha da primavera curda.

Em Amed, não pude deixar de me lembrar de uma famosa frase do poeta Bertolt Brecht: “Do rio que tudo arrasta se diz que é violento. Mas ninguém chama violentas às margens que o comprimem.”

5. SPRING FORBIDDEN / SPRING CONQUERED - Newroz 2012, an historical day for Kurdish people

[ Continued from post 4 ]




After the meeting, when we leave the park, police is waiting. And the people are again attacked with a violent intervention.




There is an aggressed woman left faint on the street and we take her inside the bus.




Then, with the help of the mayor of Diyarbakir, Osman Baydemir (a respected lawyer and human rights activist, member of BDP) she is taken to a car and transported to the hospital.





Anyway, we could not move on. The police block the buses, we are obliged to get out and the buses are confiscated. 






We continue our way back walking. 


Meanwhile, we were informed that in Istanbul violent clashes took place and that BDP Executive board member Haci Zengin had died, hit in the head by a gas bomb thrown by the police, while many others were heavily injured.



There are hundreds of arrests both in Istanbul and Diyarbakir. People expect more violent actions and persecutions from the oppressing administration during next weeks.


But one does not need to have a PhD degree in history or sociology to understand that the Kurdish people will never surrender on the fight for freedom, democracy and their legitimate culture rights.
And that they "shall overcome some day".



4. SPRING FORBIDDEN / SPRING CONQUERED - Newroz 2012, an historical day for Kurdish people

[ Continued from post 3 ]




Arriving at the park, we realize how huge is the crowd.






The stage is still there. On the left side decoration there is a picture of the statue of Zakia Alkan, the women who set herself on fire to protest against the Turkish ban on Newroz. It could not be more symbolic for this day. 
The stage is full of people because it cannot be used for the speakers. The day before, the police have confiscated all the sound equipment that was installed, in order to prevent any speeches.




But BDP still have the buses with its sound systems. So, it will be from the roof of the buses that the speakers (party leaders, members of Parliament, local elected authorities) will address the crowd.




Even people from the guerrilla had spoken, their face covered for security reasons. Many of the speakers of previous commemorations have been charged and put in prison because of their participation on Newroz commemorations.



The Kurdish leaders consider the victory of this day a milestone on their long fight for freedom and democracy. Newroz 2012 is an event of major importance that will remain in the history of Kurdish nation.











However, the day is not finished. 




[ To be continued on post 5 ]



3. SPRING FORBIDDEN / SPRING CONQUERED - Newroz 2012, an historical day for Kurdish people


[ Continued from post 2 ]


And if we cannot use the streets, we will march through the fields.




From different directions, people are converging to the area of the park. There is information that the police barriers around the park have been broken and people start to gather there in great number.




Our two buses, empty now, have managed to turn around the city and will pick us further on, in order to take us through the streets leading to the park, which have now been open by the people. 


During this last kilometer, the population on the streets or from their houses greets the buses of BDP.







Everyone is now leading to Newroz Park by different means. There is a sense of victory and happiness in the air.



On our way, we see the police barriers torn down.



The police had placed around the park a great number of mobile units for intercepting and blocking telecommunications. All of them have been, let’s say, somehow “intercepted and blocked” by the population and this intelligence equipment was put off service.








Our buses finally reach Newroz Park.






[ To be continued on post 4 ]