Os infiltrados




Publicado em: O Gaiense, 11 de Maio de 2013


E se Pinto da Costa se fizesse eleger presidente do Benfica por um mandato e aproveitasse para vender ao Porto a preço de saldo os melhores jogadores, despedisse funcionários vitais para o clube e concessionasse o Estádio da Luz para campo de treinos do Sporting?

Algo de semelhante se está a passar no país. Um grupo de representantes do sector privado da economia, com treino específico na forma de defender esses interesses, fez-se eleger ou nomear para dirigir a coisa pública. Ocupam cargos no governo e na administração, a partir dos quais transferem tudo o que podem (que é de todos nós) para as mãos dos seus.

Se o serviço postal privado é que é bom, porque não vão trabalhar para lá e deixam em paz os nossos Correios, que prestam um serviço de proximidade, empregam muita gente e ainda por cima dão lucros de milhões? Se o ensino, a saúde, o abastecimento de água, os estaleiros, os aeroportos e as estradas privadas são o seu projecto de vida, porque continuam a dar ordens nos nossos serviços públicos e nas nossas infra-estruturas?

Se afirmam que nas empresas privadas é que se cria emprego, porque não vão para lá criar emprego? Se acham que a solução é ser empreendedor, porque não são empreendedores e vão criar o seu próprio posto de trabalho, em vez de continuarem a receber as suas remunerações do orçamento de Estado?

O sector privado da economia é legítimo e tem o seu lugar na sociedade. O que não é legítimo é, em vez mostrar a sua valia num ambiente de sã concorrência, infiltrar agentes no sector público para desviar para negócios privados fundos do Estado e impostos dos cidadãos, para destruir serviços que funcionam, só para abrir campo à prestação privada dos mesmos.

Os infiltrados violam a ética de serviço público que consta do compromisso de honra de qualquer tomada de posse. Não deveriam deixar a gestão pública para quem quiser defender o que é público?



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