Elogio da coragem



Publicado em: O Gaiense, 4 de Maio de 2013


O presidente do Conselho Europeu, Herman Van Rompuy, veio esta semana a Portugal dar uma forcinha ao membro do Conselho Europeu Passos Coelho. É neste órgão da UE, a que ele formalmente preside, mas onde manda quem pode (e todos sabemos quem é a senhora que lá manda) que se têm vindo a tomar as decisões mais gravosas para a Europa.
Quando Rompuy elogia Passos, está a julgar em causa própria. Passos, como sabemos, vai às reuniões do Conselho receber ordens e abanar a cabeça. Daí que vir agora o presidente dizer que Portugal é “um bom exemplo”, o trabalho feito nas finanças é óptimo e os resultados alcançados são muito positivos, parece não só inútil, mas sobretudo uma enorme falta de sensibilidade e respeito pelas vítimas das decisões tomadas e só em Portugal já são alguns milhões.
A esta falta de sensibilidade e respeito, Rompuy chama coragem: “Muitos líderes, tal como os do vosso país, mostram coragem. Estão convencidos de que têm que agir como agem. E é assim que tem que ser”.
Costumamos chamar coragem à capacidade de enfrentar com valentia ameaças fortes. Ora não consta que os reformados, os trabalhadores ou os doentes alguma vez tenham ameaçado o país. Pelo contrário, a nossa sociedade e a nossa economia têm sido atacadas por forças poderosas, essas sim bem fortes: os mercados e os especuladores financeiros, aos quais mensalmente são entregues os milhões de euros que nos são cobrados em nome da austeridade. Coragem política seria bater o pé a esses poderes, enfrentar os fortes em nome e em defesa dos mais fracos e expressá-lo nas reuniões do Conselho. Aceitar tirar aos fracos para dar aos fortes é simples covardia, ou pior, é um miserável serviço de traição, que na história da humanidade tem tristes precedentes e diversas classificações onde a palavra coragem nunca foi incluída.

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