Publicado em: O Gaiense, 20 de Fevereiro de 2010
Na semana que findou vivemos um generalizado entusiasmo comemorativo dos 20 anos da libertação de Nelson Mandela. Porém, pouco se falou dos motivos da sua prisão e ainda menos da absoluta falta de solidariedade de que foi vítima quando mais precisava dela, nomeadamente por parte de muitos dos que hoje se comovem com a sua história de vida. Em 1952, foi julgado por traição por conduzir o ANC a uma táctica de greves e boicotes. Quando o ANC foi proibido, passou à clandestinidade e criou a ala militar do movimento. Em 1962, foi condenado a cinco anos de trabalhos forçados. Dois anos depois, a pena foi alterada para prisão perpétua, por acusação de acções terroristas e tentativa de derrube do governo. Anos mais tarde, foi-lhe oferecida a libertação se condenasse publicamente a acção violenta contra o governo. Recusou e, em consequência, continuou preso até 1990. Em 1993 recebeu o prémio Nobel e em 1994 foi eleito presidente. Não obstante, até 2008, o seu nome constou da lista de terroristas dos EUA, o que gerou inúmeros incidentes diplomáticos.
Os mais velhos lembrar-se-ão que “terrorista” era também a designação oficial do governo português para os movimentos de libertação das colónias e que muitos dos governantes africanos com que mais tarde construímos a CPLP foram assim chamados durante décadas.
E, segundo o governo indonésio, “terrorista” era também o grupo armado que, nas montanhas de Timor, insistia em manter viva a chama da esperança num país livre e independente.
“Terroristas” foram considerados os republicanos irlandeses que, na rua ou na prisão, resistiam contra a ocupação inglesa da sua pátria e que hoje são respeitados ministros de um governo de partilha e de paz.
Porventura a forma mais útil das comemorações da libertação de Mandela seria lembrar os que estão na prisão sofrendo o mesmo abandono que ele sofreu durante tantos anos, apelidados como ele de “terroristas” e cujo nome ignoramos, mas que amanhã talvez recebam um prémio Nobel e se revelem protagonistas da solução de velhos conflitos que hoje parecem causas perdidas, mas que a sua persistência e firmeza ajudará a resolver. Como fez Nelson Mandela.
2 comentários:
Vous avez bien fait de revenir un peu en arrière afin de nous commémorer l'hypocrisie occidentale.
Bientôt un film sur Sadam et comment le Etats-Unis l'ont placé et tué.
Bientôt un film sur Pinochet et comment les Etats-Unis l'ont mis au pouvoir?
EN gros, ces deux derniers films ne passeront jamais dans les salles, car il s'agit de vrais "méchants", tandis qu'avec Nelson Mandela, l'occident est gêné et évite de parler de leurs erreurs en espérant qu'en le mettant maintenant sur un piedestal, les gens penseront que leurs gouvernement à toujours soutenu un héros de la nation tel que Mr.Mandela.
C'est pour cette raison que votre article a beaucoup d'intérêt à mes yeux.
Bien à vous,
Claudio Gomes Sanchez
É isso mesmo. Belo artigo
Concordo com o Claudio.
Honras que aliviam a consciência dos hipócritas.
É bem preciso lembrar a(s) historia(s) para se evitarem novas histórias de opressão.
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