Publicado em: O Gaiense, 30 de Junho de 2012
Um golpe acaba de afastar do poder o segundo presidente democraticamente eleito de um país da América Latina (AL): depois de Manuel Zelaya, nas Honduras, agora foi a vez de Fernando Lugo, do Paraguai. Continente antes dominado por ditaduras instauradas por golpes militares, vítima das mais radicais políticas neoliberais, do tipo das que hoje são impostas aos europeus, os povos da AL e das Caraíbas reagiram e foram elegendo, um após outro, presidentes e governos de esquerda, que se opuseram ao domínio do capital financeiro e das grandes multinacionais.
Como os golpes militares clássicos já não são fáceis no século XXI, outras tácticas para a recuperação do poder foram desenvolvidas pela grande burguesia que tinha feito fortuna à sombra das ditaduras. Felizmente hoje temos a Wikileaks para tornar mais claras essas tácticas. Um telegrama, redigido em 2009 para o governo dos EUA pela sua embaixada no Paraguai, relatava pormenorizadamente o plano do golpe que foi agora executado e quem seriam os protagonistas, descrevendo Federico Franco, que assumiu agora a presidência, como um “old-school liberal party politician”, com um ego exagerado e feitio difícil.
As reacções internas e internacionais contra o golpe estão em marcha. O Paraguai acaba de ser suspenso do Mercosul. Muitos governos da AL retiraram os seus embaixadores em Assunção e recusam-se a reconhecer os golpistas e o seu governo. Veremos como reage a Europa, sempre tão lesta a dar lições de democracia a todo o mundo, mas que em relação ao golpe nas Honduras não esteve à altura das suas pretensas credenciais democráticas.
Sem comentários:
Enviar um comentário