Diz-me qual é o orçamento, dir-te-ei qual é a política




Publicado em: O Gaiense

Em nova cimeira, os chefes de Estado e de governo da UE discutem o Quadro Financeiro Plurianual para 2014-2020. Em política, um orçamento diz sempre mais do que mil palavras. As propostas em cima da mesa são um retrato fiel do projecto político do famigerado grupo de governantes do Partido Popular Europeu (PPE) que hoje dirige a UE para o abismo, enterrando os restos das ideias de coesão e solidariedade que alguns, em tempos idos, anunciaram para a Europa.

Da proposta de um aumento de 5%, feita pelo Parlamento Europeu, nada resta. O Presidente do Conselho Europeu, Van Rumpuy, propõe mesmo um corte de 80 mil milhões relativamente ao período anterior. Quando se passa ao teste da verdade e se trata de colocar o dinheiro ao lado das promessas, todos esquecem o tão prometido novo investimento para o crescimento e o emprego. Corta-se no “Erasmus”, na formação ao longo da vida, na investigação, na coesão e emprego, na política agrícola, no desenvolvimento regional, no apoio aos países em vias de desenvolvimento. Passos Coelho, indignado, diz que vetará os cortes propostos, mas depois – sempre bom aluno – acrescenta que afinal poderá aceitar se os cortes forem um pouco mais suaves.

A cada reunião que passa, os governos, que há muito colocaram a solidariedade europeia na gaveta, acentuam a deriva suicidária da austeridade. O orçamento europeu é muito diferente dos orçamentos nacionais, porque os gastos administrativos centrais não chegam aos 6%. O resto destina-se a acções a desenvolver nos próprios Estados Membros e um pouco no apoio a países terceiros O orçamento tem correspondido a uns míseros 1% do PIB Europeu. Mesmo assim, o PPE quer menos. Os efeitos serão devastadores. Quando se precisava de mais Europa para fazer frente às dificuldades, o que nos apresenta a direita é menos orçamento, menos Europa social, menos investimento. Para Portugal, as consequências serão desastrosas.




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