O nascimento de um novo sujeito histórico?




Publicado em: O Gaiense, 17 de Novembro de 2012


14 de Novembro foi dia de greve geral. Esse facto tem, só por si, bastante importância, mas a verdade é que já tínhamos tido outras greves gerais. O que faz do dia 14 um dia especial é ter sido a primeira greve geral transnacional na Europa. O dia 14 de Novembro de 2012 vai figurar seguramente nos manuais de história com que os nossos filhos ou netos estudarão o século XXI europeu por marcar a entrada na cena política de uma nova entidade até hoje completamente ausente: um “demos” europeu.

Na UE sempre houve povos, estes sempre se manifestaram das mais variadas formas, mas fizeram-no essencialmente como povos de cada Estado-Membro. Uma entidade ou sujeito político a que se pudesse chamar “povo europeu”, um verdadeiro “demos” europeu (no sentido grego da palavra), nunca existiu verdadeiramente, a não ser, de forma embrionária, na oposição comum à guerra do Iraque. Ora, para haver democracia, a primeira condição é que haja um “demos”, um povo constituído como tal - não meramente uma população ou uma multidão -, e a segunda condição é que seja esse “demos” a deter o poder, a exercer a sua “cracia”. Muitos investigadores têm assinalado que não haverá verdadeira democracia europeia enquanto não se constituir e afirmar esse “demos” europeu.

São os atuais problemas comuns aos povos de vários países que estão a dar-lhe essa nova consciência de pertencerem a um mesmo povo europeu, é o facto de se estarem a aplicar a todos por igual as mesmas receitas, que causam a mesma destruição por todo o lado onde a pilhagem se exerce que, paradoxalmente, se pode transformar num factor de união das vítimas e pode impulsionar o nascimento de uma real democracia europeia.

Os mais crentes dirão que é Deus a escrever direito por linhas tortas. Outros lembrarão que, mais uma vez, a luta de classes, com a sua dor, pode estar a exercer o seu velho ofício de parteira da história.



1 comentário:

JOSÉ LUIZ FERREIRA disse...

O que as elites políticas e burocráticas não conseguiram em 60 anos (nem nunca poderiam ter conseguido, como cada vez mais parece evidente) pode estar a ser conseguido pelos povos em luta.