Horizonte 2020




Publicado em: O Gaiense, 8 de Dezembro de 2012


Vamos entrar no último ano do Sétimo Programa-Quadro de Investigação da União Europeia para o período de 2007 a 2013. E começaram, há poucos dias, as negociações tripartidas entre o Conselho, a Comissão e o Parlamento Europeu para definir o oitavo programa, para os anos 2014 a 2020, a que foi dado o nome de Horizonte 2020, que a Comissão apresenta com “ambição de gerar ideias, crescimento e emprego para o futuro”.

Neste momento, existe a proposta inicial da Comissão, com uma dotação orçamental de 80 mil milhões de euros, e uma contraproposta do Parlamento, prevendo um investimento de 100 mil milhões. Pode parecer muito dinheiro, mas é um investimento de menos de 8 cêntimos por dia por habitante num programa que é considerado por todos como essencial para atingir os objectivos enunciados.

O que acaba por ser mais preocupante são os sinais que vão chegando do Conselho, onde Passos Coelho e seus pares, mais Vítor Gaspar e seus pares, se preparariam para propor drásticas reduções ao orçamento do programa. Estes cortes orçamentais, como os portugueses muito bem sabem, resultariam inevitavelmente em machadadas fatais no crescimento e no emprego projetados. Mas, certamente, seriam feitos mantendo as lindas palavras de esperança que estão no texto inicial da Comissão e que, sem dinheiro para se concretizar, ficariam à espera de um qualquer milagre da multiplicação de cientistas produzido por mero acaso, por investigadores precários e mal pagos, num laboratório subfinanciado e obsoleto.

UE: mais uma proposta de caminho para a União Económica e Monetária





O estaleiro de construção da "Genuine Economic and Monetary Union"



Pouco tempo depois da publicação do documento de estratégia para a UEM de Durão Barroso, de que demos nota em post anterior (considerando-o um projecto de blindagem política do sistema em véspera de previsíveis convulsões sociais), vem agora o Presidente do Conselho Europeu, Herman Van Rompuy, trazer para a discussão pública a sua proposta de construção da União Económica e Monetária.

São dois documentos a ter em conta nos debates em curso; a questão dos orçamentos nacionais, sobretudo dos limites e competências dos parlamentos nacionais nesta matéria é, seguramente, um dos pontos mais quentes.



Oscar Niemeyer - uma vida e uma obra com dimensões para além do comum


A notícia da morte de uma pessoa com quase 105 anos não poderá constituir propriamente uma surpresa. Mas não deixa se ser chocante quando se tem um apreço antigo e muito especial por ela.

Aqui fica, escolhida um pouco ao acaso, a memória de duas obras do Oscar Niemeyer.



Inaugurado em 1958, o Brasília Palace Hotel foi o primeiro edifício da nova capital do Brasil (feito em simultâneo com o Palácio do Planalto e a Capela de Nossa Senhora de Fátima). Continua a ser um local absolutamente encantador, onde se respira uma calma profunda num ambiente de absoluta modernidade, projectado com áreas generosas, próprias de uma região onde espaço é o que não falta.













Em contraste, a sua Capela de Nossa Senhora de Fátima (projectada e construída no mesmo momento e na mesma futura cidade) é, certamente, das mais pequenas igrejas do Brasil. Tão minúscula que boa parte dos fiéis se sentam de fora e a comunhão é servida no exterior.











E fica aqui também um registo da única obra do Niemeyer em Portugal, também um hotel: o Casino Park Hotel, no Funchal - Madeira, hoje Pestana Casino Park Hotel.




O novo Programa Quadro para a Investigação e Inovação da UE


Cadeira especial num dos bares do edifício do Conselho


Começaram hoje, na sede do Conselho da UE, em Bruxelas, as discussões finais tripartidas entre o Parlamento Europeu, o Conselho e a Comissão Europeia para estabelecer o Programa Quadro para a Investigação e Inovação da UE para o período 2014-2020.

Este trílogo será uma longa maratona negocial de vários meses, com o objectivo de que tudo esteja aprovado e pronto para ter o seu início em 1 de Janeiro de 2014.

Não será fácil, dado que, a 393 dias do arranque, não há ainda qualquer acordo quanto ao orçamento do programa. A Comissão propôs 80 mil milhões de euros; o Parlamento, através da comissão parlamentar competente, fez um projecto para 100 mil milhões; no Conselho, onde tem assento o governo português, vão-se afirmando posições favoráveis a um "enorme corte de fundos".

O programa é composto por seis documentos, cinco legislativos e um não legislativo. É interessante notar que, entre os seis relatores, dois são portugueses: Marisa Matias num relatório legislativo e Graça Carvalho no não legislativo. E entre os sete representantes dos sete grupos políticos europeus, três são portugueses: Teresa Mergulhão pelo grupo S&D dos socialistas europeus (que integra o PS), Alfredo Sousa de Jesus pelo PPE (que integra o PSD e o CDS) e eu pelo grupo da esquerda GUE/NGL (que integra o Bloco e o PCP).

Informações mais detalhadas sobre o programa podem ser encontradas aqui.
A proposta aprovada na passada semana pelo Parlamento estará em breve disponível.


Livros de Manuel António Pina que nunca estiveram à venda - 2



Em continuação de post anterior, aqui vos deixo imagens de um outro livro, que publicámos em 1993: "Farewell Happy Fields".







Livros de Manuel António Pina que nunca estiveram à venda - 1



Há vários livros do Manuel António Pina que nunca estiveram à venda.

Entre 1991 e 2000, publiquei com o Pina uns pequenos livros de poemas seus, que destinávamos exclusivamente a ofertas pessoais.

Fazíamos normalmente uma edição dupla de cada livro, com capa ligeiramente diferente, ficando metade da edição para ele e metade para mim.

Em cada livro inclui-se sempre a reprodução de uma obra de um artista plástico.



O primeiro desses livros foi feito no Natal de 1991, com o título “Um sítio onde pousar a cabeça”. Fizemos 100 exemplares para o Pina e 100 para mim.

Incluímos um retrato do Manuel António Pina pintado por José de Guimarães, artista com o qual tínhamos uma excelente colaboração, tendo realizado nessa época várias campanhas publicitárias que utilizavam pinturas ou esculturas suas e para as quais o Pina escrevia os textos.

Lembro-me (com numa memória já um bocado enevoada) que, num programa de televisão em que se fazia o balanço literário do ano que acabava, o Arnaldo Saraiva referiu que este era um dos melhores livros publicados nesse ano.

Não imaginam a confusão que se gerou porque, sendo o Manuel António Pina um autor muito conhecido, quase ninguém conhecia o livro; várias pessoas e algumas livrarias lhe telefonaram a perguntar como poderiam obter o livro, qual era a editora, quem distribuía...

O Arnaldo Saraiva tinha recebido o livro como oferta de Natal do Pina que, como ele dizia na dedicatória, o tinha ido “meter por aí, pelos marcos de correio da cidade, evadindo-me dessa espécie de orfanato que os poemas inéditos são”.