Publicado em: O Gaiense, 26 de Janeiro de 2013
Vítor Gaspar foi às compras. Com o nosso cartão de crédito. Foi comprar dinheiro. Não porque precisássemos dele (segundo explicou), mas para ver se alguém nos vendia – “para testar os mercados”. Comprou 2500 milhões, a pagar em 5 anos. Quanto custou? A 4,891% ao ano, a operação custa-nos mais de 611 milhões de euros. E mais: ficamos a saber que, a este preço, não falta quem nos queira vender. Pudera, a taxa é mesmo superior àquela com que a troika nos tem estrangulado.
Mas se a compararmos com a taxa praticada pelo BCE para financiamento dos bancos – a 0,75% o custo desta operação seria inferior a 94 milhões de euros – a diferença de 517 milhões é a margem de lucro de que os investidores podem dispor. Podem mesmo revender ao BCE estes títulos da dívida portuguesa a uma taxa situada algures entre os 0,75% a que compram o dinheiro e os 4,891% a que nos vendem, que há muito lucro para repartir entre ambos. De onde vem esse lucro? Dos nossos impostos. Vamos pagar, durante 5 anos, 4,891% sobre estes 2500 milhões, isto é, temos agora nova mensalidade de mais de 10 milhões, a somar a tudo o que já pagávamos. Os mercados adoram estes governos. E adoram que o BCE, com o seu potencial financeiro, cubra o negócio e lhes garanta que tudo vai correr bem.
Se o leitor tiver 2500 euros para investir durante 5 anos, bem pode procurar quem lhe dê 611 euros de juros. Seguramente não vai encontrar ninguém disposto a pagar-lhe o que Vítor Gaspar alegremente paga aos seus queridos mercados financeiros. Paga e ainda festeja. Talvez porque o dinheiro não é dele; são os portugueses que financiam as suas experiências e teimosias com o que todos os meses é descontado dos seus magros salários. E porque o BCE, esse, só empresta dinheiro barato aos banqueiros; estes depois que tratem de o fazer chegar aos Estados. Está tudo muito bem pensado, não acham?