Publicado em: O Gaiense, 23 de Fevereiro de 2013
A Comissão Europeia teceu fortes elogios ao governo deste pobre país da periferia da UE pelo sucesso no controlo do défice público, na tentativa de o aproximar dos 3% do PIB, o que foi conseguido sobretudo através de cortes nos salários e pensões. Mas esta política, os sucessivos casos de corrupção e um desencanto generalizado com a elite política, originou enorme descontentamento popular e um crescendo de indignação traduzido em frequentes manifestações e ações de protesto.
O governo de direita, na sua obsessão privatizadora de tudo o que é empresa pública, vendeu a companhia eléctrica nacional a uma empresa estrangeira mas, ironia das ironias, a empresa que a adquiriu é, ela própria, uma empresa pública no seu país de origem. A privatização teve como consequência o aumento dos preços, o que originou mais protestos, inflamados também pelo conhecimento das remunerações escandalosas pagas aos administradores da empresa.
Para tentar acalmar os ânimos, o primeiro ministro demitiu o mais impopular membro do governo, o ministro das Finanças. Mas o povo não abrandou os protestos e, apesar da repressão policial, as manifestações alastraram por várias cidades do país. O governo, compreendendo finalmente que a situação era insustentável, apresentou a demissão e foram convocadas eleições antecipadas.
Esta é uma história real, passada nos últimos dias e nas últimas semanas. Não deixa de ser curioso até que ponto tudo isto nos é tão estranhamente familiar, apesar de se passar no outro extremo da Europa. Agora, os portugueses podem olhar para a Bulgária e fazer como aqueles leitores mais impacientes que não aguentam a curiosidade e, a meio da leitura, dão uma espreitadela a ver o que acontece nos capítulos seguintes.