Debates autárquicos 2017
A televisão pública já começou os debates das Autárquicas 2017.
O plano da RTP é realizar debates com os candidatos às Câmaras das 18 capitais de Distrito. Temos obviamente pena que não haja um debate de Gaia, o concelho mais populoso do Norte.
No entanto, se não há debate de Gaia para dar lugar aos debates de todos os concelhos do interior que são capitais de distrito, e em face do abandono político e mediático a que muitas dessas terras são normalmente votadas, não podemos deixar de estar de acordo com esta opção da RTP, apesar de prejudicar o nosso concelho. Aliás, o nosso slogan de campanha - “Mais para quem tem menos” - assim nos obrigaria, para sermos coerentes.
Gaia tem já programados quatro debates:
8 de Setembro - Porto Canal
11 de Setembro - Jornal de Notícias
18 de Setembro - Jornal O Gaiense
27 de Setembro - Antena 1
Defendemos que para estes debates devem ser convidados os candidatos de todas as oito listas dos partidos e coligações que concorrem à Câmara. Pode ser menos eficaz e menos atractivo do que fazer um debate só com os chamados “quatro grandes” (PS, PSD/CDS, Bloco, CDU), mas é seguramente mais justo e mais democrático. Até porque quem vai ser grande, médio ou pequeno, são os eleitores que vão decidir no dia 1 de Outubro.
Campanha eleitoral patrocinada pelo orçamento municipal
Uma pergunta simples a quem lê este post
Veja bem este "conteúdo patrocinado", ou seja, pago com dinheiro público, do nosso orçamento municipal
https://www.publico.pt/2017/
e depois diga a si próprio (é mais importante do que dizer-me a mim) o que sentiu ao ver que o dinheiro da Câmara, que é sempre preciso para mil e uma pequenas coisas que não se conseguem fazer, afinal anda a servir para pagar a publicação de tal entrevista.
É claro que se a entrevista tivesse alguma actualidade noticiosa, seria publicada pelo jornal como matéria jornalística. Como vem a propósito de nada - a não ser autopromoção eleitoral de um candidato - só foi publicada contra pagamento, é "conteúdo patrocinado".
Paga com dinheiro que deveria ser usado com o respeito que é devido ao esforço dos contribuintes.
Foi assim, devagarinho, com coisas pequenas, que a política no Brasil começou a resvalar para a falta de decência, e agora estamos a ver até onde chegou. A anormalidade foi-se normalizando aos poucos.
Se não queremos o mesmo para o nosso país, há que matar no ovo a serpente da corrupção.
Universidade do Porto - na inauguração da placa de homenagem aos estudantes
30 de Junho de 2017
Edifício da Reitoria da Universidade do Porto
Inauguração de uma placa alusiva às lutas estudantis
Intervenção de Renato Soeiro
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Magnífico Reitor e estimado colega da Faculdade de Engenharia
Senhor Presidente do Conselho Geral da Universidade do Porto
Colegas
Camaradas
Minhas senhoras e meus senhores
Eu não falarei por mim, mas por todas as gerações de estudantes do Porto que, de 1926 a 1974 - como diz a placa - lutaram e deram o seu melhor e prejudicaram as suas vidas na luta pela liberdade e pela democracia, enquanto outros se resignavam, fingiam que não viam nada e tratavam afincadamente da sua vidinha.
Muitos desses, que viraram a cara à luta pela democracia quando ela era mais necessária, vemo-los hoje a encherem a boca com discursos sobre a liberdade e a democracia, mas essa é, provavelmente, apenas uma outra forma (agora mais moderna) de continuarem a tratar da sua vidinha.
Em 1974 eu não estudava aqui.
Tinha sido excluído da frequência em Maio de 73, através de um processo movido pela Reitoria com base numa lei de 1932, uma velha lei da ditadura, anterior mesmo ao Estado Novo e à sua Constituição fascista de 33. Salazar ainda não era sequer o chefe do governo, embora o seu nome conste, com os outros ministros, na assinatura desta lei.
E, para aplicar esta tão antiga lei contra os estudantes, a Reitoria, nesse mesmo mês de Maio de 73 em que começou o meu processo, contratou os serviços externos de uma dupla absolutamente sinistra: o advogado Dr. Fernando de Matos e seu ajudante Delfim de Barros Gomes.
Foram eles que instruíram o meu processo e os de tantos outros colegas, que nos ouviram, que nos notificaram, e faziam-no em papel timbrado da Reitoria, apesar de se tratar de uma forma de gestão da repressão em regime de outsourcing.
Esse advogado ganhava nesta Universidade, para fazer este papel de repressão dos estudantes, mais do dobro do que ganhavam os catedráticos, e o seu desqualificado ajudante mais do que os professores assistentes. O que está certo: para o regime, reprimir tinha mais valor do que ensinar.
Para processar os honorários destes dois senhores, no fim do ano de 73 - os honorários de Maio a Dezembro -, foi preciso o ministro Veiga Simão enviar um reforço de verba para esta nossa Universidade, despachado disfarçadamente como financiamento para "expansão do Ensino Superior".
E querem saber a melhor? A seguir ao 25 de Abril, este senhor Dr. Fernando de Matos teve a distinta lata de processar a Universidade do Porto para que lhe pagasse - a si e ao seu ajudante - os honorários devidos pela instrução dos processos contra os estudantes entre Janeiro e Abril de 74, dando-se até ao luxo de se aumentar a si próprio para mais do triplo do vencimento de um catedrático e ao ajudante para mais do que ganhava um professor auxiliar.
Só que nessa altura o reitor já era Ruy Luís Gomes e o vice-reitor era José Morgado, também eles antigas vítimas do fascismo universitário, e deram-lhe obviamente a resposta que merecia.
Mas a Reitoria do tempo do fascismo não se limitava a estes processos académicos.
Recolhiam os papéis que nós aqui distribuíamos, punham os vigilantes a escutar-nos e depois mandavam os contínuos da Universidade levar essa informação ao Governo Civil, ali na Batalha, para instruir processos policiais, que se somavam e completavam os processos académicos.
Muitos de nós fomos levados a julgamento com base nessas informações. Houve dezenas de processos. Eu, por exemplo, passei dias e dias e dias no banco dos réus de um tribunal (que era duro e não tinha costas), porque tive 5 processos diferentes.
Mas nem só de processos académicos e de processos policiais se fazia a repressão fascista nesta Universidade. Muitos dos presentes se lembram de quando estávamos aqui a fazer um plenário, neste átrio, e a Reitoria mandou fechar as portas e chamou a polícia e fomos todos presos, algumas centenas, e levados num imenso cortejo de carrinhas “nívea” até ao aljube.
Nos anos 70, a Academia do Porto vivia em estado de sítio. Era um verdadeiro movimento de massas que se tinha tornado absolutamente incontrolável pelas autoridades.
Estamos muito orgulhosos do enorme contributo dos estudantes desta Universidade para o descrédito total do regime podre em que vivíamos. Custou muito acabar com ele, mas valeu bem a pena.
Em nome de todas as gerações de estudantes que nunca desistiram da liberdade, muito obrigado por esta placa a lembrar a nossa luta.
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(aqui ficam algumas fotos do evento que têm sido publicadas nas redes, com a devida vénia ao Renato Roque, à Manuela Matos Monteiro, ao Fernando Sousa Lopes e ao António Leal)
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