Para além de todos os bons argumentos que têm sido apresentados por autarcas, outros políticos e agentes económicos contra os planos da TAP que desprezam a região Norte do país, gostaria de lembrar um outro factor que gerou enorme descontentamento e levou muita gente que eu conheço, dolorosamente, a deixar de encarar a TAP como algo de nosso, uma companhia à qual deveríamos dar a nossa preferência patriótica na compra de voos, em detrimento de outras companhias aéreas.
Houve uma altura em que apenas a TAP (promeiro sozinha, depois em code-share com a Brussels Airlines) tinha voos directos de ligação entre o Porto e a capital da União - Bruxelas.
Eram voos largamente utilizados todas as semanas por deputados europeus, funcionários da UE, pessoas ligadas à enorme rede de instituições cuja actividade está centrada em Bruxelas. Pessoas de todo o Norte do país e muitas também da Galiza.
Abusando desse exclusivo, sem concorrência, a TAP começou a aumentar escandalosamente os preços das viagens. O voo Porto-Bruxelas ficou muito mais caro do que o voo Lisboa-Bruxelas (apesar de a distância ser menor) e muito mais caro do que os voos da TAP para outros destinos europeus bem mais longínquos e com aeroportos cujas taxas não eram inferiores.
Actuou na lógica de mercado, é certo, aproveitou a falta de concorrência, ganhou tudo o que pôde à custa dos passageiros desta região. Mas, com essa atitude, alienou qualquer afectividade natural pela companhia, que de nossa só tinha o nome. E, na escolha de voos para outros destinos (eram passageiros frequentes, que viajavam muito e para muitos destinos), deixámos de dar preferência à TAP sempre que havia uma boa alternativa, coisa que talvez não tivéssemos feito se a TAP nos respeitasse e a sentissemos como nossa.
Há a acrescentar que a TAP nessa altura era 100% pública. Mas a sua gestão já tinha todos os vícios de uma gestão privada, nenhuma perspectiva verdadeiramente nacional, nenhum respeito pelo país. Como hoje. É tudo isso que urge mudar.