Revolução
Quando éramos novos, muito novos, discutíamos imenso sobre como derrubar o regime fascista.
Nós, que éramos defensores da independência nacional e não esquecíamos como em 1640 nos tínhamos livrado dos Filipes, nós que éramos herdeiros dos primeiros defensores da necessidade de uma Constituição e abominávamos o absolutismo, não esquecíamos a revolução liberal de 1820, nós que éramos anti-monárquicos e defendíamos que a chefia do Estado teria de resultar de uma eleição popular e nunca ser transmitida hereditariamente dentro da mesma família, não esquecíamos a revolução republicana de 1910, nós que ansiávamos pela liberdade e pela democracia, já tínhamos concluído que, para nos livrarmos do fascismo, tínhamos de fazer uma revolução. E tínhamos, nos nossos intermináveis e entusiasmados debates, concluído que essa revolução teria de ser uma revolução armada ou não teríamos hipótese nenhuma. Só havia um pequeno problema: éramos poucos e não tínhamos armas.
Estávamos nós nestas angustiantes constatações quando uns tipos, bastante mais práticos do que nós e bastante mais organizados do que nós e que, por acaso, até tinham armas, deitaram mãos à obra e fizeram-na. A nossa sonhada revolução, que foi afinal a revolução deles, que foi a revolução de todo o povo.
Talvez eles nunca tivessem lido aquela pequena frase que um jovem de 27 anos, que vivia em Bruxelas, tinha anotado num caderno de apontamentos, há mais de um século: “Os filósofos têm apenas interpretado o mundo de maneiras diferentes; a questão, porém, é transformá-lo.”
Podem não ter lido, mas perceberam bem o sentido da coisa.
Ontem, como hoje, a questão é transformá-lo.
Obrigado pela demonstração de que é possível. Não esqueceremos.
Não te esqueceremos, Otelo.