100 anos da Tuna Musical de Santa Marinha

A Tuna Musical de Santa Marinha, uma das mais importantes e históricas associações populares de Vila Nova de Gaia, está a comemorar o seu centenário.

Aproveito o momento comemorativo para partilhar com os leitores alguns documentos com meio século, do tempo em que a TMSM comemorou o seu cinquentenário, que ocorreu num ano altamente marcante na vida da instituição porque começou em pleno fascismo e acabou em plena liberdade, alterando drasticamente as condições em que se desenvolviam as suas muitas actividades.

Uma dessas actividades era a edição regular de um Boletim Interno, que se distribuía aos associados, uma publicação periódica que não submetíamos aos serviços de censura, o que criava uma situação potencialmente interessante, mas delicada. (1)


 Eu colaborava regularmente nesse Boletim e tinha combinado com o Presidente, Zé da Micha (José Marques Monteiro) e com o chefe de redacção, Fernando Peixoto — dois amigos que conhecia de reuniões bastante discretas de um núcleo da Oposição Democrática em Gaia —, que era melhor não assinar com o meu nome por causa da PIDE que andava demasiado atenta ao que eu fazia na vida, sobretudo depois de eu ter sido posto fora da Universidade e proibido de estudar em todos os estabelecimentos de ensino de Portugal e colónias. Assinaria portanto “Manel”, simplesmente. Na altura havia uma radio-novela de grande sucesso que era o “Simplesmente Maria”, eu seria o simplesmente Manel; eles acharam piada à coisa e assim fizemos.


Outra das actividades da Tuna em que colaborava era o grupo de Teatro. Mesmo antes do 25 de Abril estávamos a ensaiar o “Felizmente há luar” do Luís de Stau Monteiro, dirigidos pelo Fernando Peixoto. Mas tínhamos já o projecto de representar “As mãos de Abraão Zacut” com encenação de Artur Almeida. Deixo-vos aqui uma interessante entrevista feita sobre este assunto e publicada no Boletim em Fevereiro de 1974. O entrevistador é o Fernando Peixoto e o entrevistado o Artur Almeida.

É interessante notar a preocupação de há meio século relativa ao conflito entre Israel e a Palestina.




Fica aqui também, como curiosidade, o requerimento ao Director de Serviços de Espectáculos (que eu tinha escrito e o Presidente tinha assinado) pedindo autorização para levarmos à cena esta peça. Está datado de 20 de Abril de 1974. Fi-lo no fim de semana, mas nunca o entreguei porque na quinta-feira seguinte o teatro passou a ser livre e a não precisar nunca mais de “autorização superior”. 


Tudo mudou nesse ano. Deixo-vos também um comunicado da Direcção da Tuna do primeiro sábado de liberdade, dia 27, a convocar a sua “massa associativa e o Povo da Beira-Rio” para irem “TODOS À TUNA”.


E, por fim, deixo-vos uma significativa primeira página do Boletim de Setembro de 1974 sobre o carácter popular da Tuna e uma notícia das comemorações do cinquentenário, já feitas em liberdade.

 





(1) Nessa mesma época, houve em Gaia outras publicações periódicas que não eram submetidas à censura. Duas delas, os jornais “A Semente” e “Perspectiva”, podem ser encontrados aqui.

Grande 25 de Abril fizemos este ano em todo o país.

Penso que no futuro, talvez não muito distante, se compreenderá a enorme importância política das comemorações do cinquentenário da Revolução.

As fotografias de Lisboa, do Porto e doutros locais são verdadeiramente eloquentes de que algo de especial se passou.

Também em Gaia, ou melhor, de Gaia até ao Porto, o 25 de Abril ficou marcado uma inabitual (pode dizer-se mesmo: inédita no concelho) manifestação multipartidária e popular, de que vos deixo aqui algumas fotografias.















25 de Abril em Gaia: E eu, que bandeira vou levar?



No dia 25 de Abril, cinquentenário da Revolução, vou estar às 13h em frente à Câmara de Gaia para a grande manifestação.

E, como é sugerido no convite dos organizadores, vou levar uma bandeira. Mas, sabem uma coisa? Acontecimentos recentes no Parlamento deram-me uma vontade enorme (talvez anacrónica, reconheço) de levar esta bandeira.


Valerá a pena explicar porquê e espero que memórias tão antigas não contenham imprecisões. 


É que fará em breve cinquenta anos que andava eu, neste mesmo local de Gaia onde começa a manifestação, a recolher assinaturas para legalizar este partido.


No dia 21 de Março de 1976, no 2º Congresso, fui eleito para a direcção nacional. Fomos chamados ao palco com o anúncio dos resultados da eleição; entre os novos dirigentes que subiram comigo ao palco estava o Maximino Barbosa de Sousa, o padre Max.


Menos de duas semanas depois, a 2 de Abril, a Assembleia Constituinte aprovava a Constituição, a magnífica Constituição da nova democracia, uma derrota histórica das forças reaccionárias, o enterro formal do fascismo. E foi nesse dia de profunda alegria democrática que uma organização terrorista chamada MDLP fez explodir o padre Max e a camarada Maria de Lurdes Correia dentro do carro, perto de Vila Real.


Estou certo de que percebem que, com a eleição de um dos dirigentes máximos do MDLP para a vice-presidência da Assembleia da República, me tenha dado esta vontade súbita de marchar neste 25 de Abril com a bandeira que era a do Max e da Maria de Lurdes.

As comemorações do cinquentenário são também um momento de lembrar a história.




Quarta-feira, 20 de Março, 17h30: sessão "Como foi o 25 de Abril na FEUP?"

 📅 20/03 🕒 17h30 📍 Auditório José Marques dos Santos (FEUP) 


Branca Gonçalves, Manuel Matos Fernandes e Renato Soeiro 






[do site da FEUP:]

"A Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto inicia no dia 20 de março no seu auditório um ano de programação cultural dedicado às comemorações do 50º aniversário do 25 de abril de 1974. 

Sob o mote “As Equações da Liberdade”, o Comissariado Cultural da FEUP reuniu uma comissão interna para o efeito e propõe um conjunto de atividades que inclui debates, concertos, teatro e exposições. O programa pretende evocar a memória do período de resistência, celebrando em simultâneo as conquistas e valores de Abril. 

A proposta que marca o arranque destas atividades é uma conversa, a primeira de um ciclo que ao longo do ano reunirá personalidades da cultura, política, ciência e jornalismo para celebrar 50 anos de democracia, e acontece já na próxima quarta-feira às 17:30. É parte integrante do Clube de Leitura e contará com três convidados de relevo, sendo pontuada com um momento musical no final da sessão. 

Como foi vivido o dia 25 de Abril na FEUP? O que sentiam os estudantes e trabalhadores antes da revolução? Quais foram as reivindicações conquistadas na FEUP? 

Estas são algumas das perguntas que servem de mote para a primeira conversa deste ciclo, que lança também o ano de comemorações. Vamos tentar entender como foi o fim da ditadura, a revolução e o PREC na FEUP, a partir dos testemunhos de quem os viveu: Branca Gonçalves, licenciada em Engenharia Químico Industrial, era trabalhadora da FEUP; Manuel Matos Fernandes, na altura estudante do 4º ano de Engenharia Civil e dirigente associativo; Renato Soeiro, estudante de Engenharia Civil, membro da direção da Associação de Estudantes, atividade que levou a que fosse suspenso e proibido de frequentar qualquer Universidade do país e colónias."