O negócio do lixo


Publicado em: O Gaiense, 6 de Agosto de 2011
Está realizado aquele que foi já considerado o melhor negócio do ano. O homem mais rico de Portugal e a mulher mais rica de Angola vão dar 40 milhões de euros pelo BPN, na condição de nós, pobres contribuintes, antes lá metermos mais 550 milhões. Pode parecer que compraram algo que na mais sofisticada linguagem financeira se classifica como lixo, mas afinal não é bem assim: só ficam com os créditos cobráveis (o mal parado fica para nós), com os balcões rentáveis e com os funcionários que lhes interessam (os restantes são despedidos, mas somos nós que lhes vamos pagar as indemnizações).
E assim acaba em beleza a saga bancária dos ex-membros do governo de Cavaco. Accionistas e gestores do BPN continuam todos por punir. O banco vai passar, em mais um obscuro processo, e sob ultimato da troika, para a gestão de outro ex-membro do mesmo governo de Cavaco. A vida continua e nós cá ficaremos a pagar o que foi roubado e mais o lixo que ninguém quer, a preço de ouro.
O BPN foi polémico desde a sua criação. A nacionalização também. O próprio Durão Barroso afirmou há dias que a nacionalização foi um “erro completo” e que o risco de contágio com que foi justificada não se justificava. Mas há quem considere que arrecadar o lixo é uma missão do Estado. Os mesmos que entendem que o que houver de lucrativo nas mãos do Estado deve ser rapidamente privatizado, porque o Estado não tem vocação para ser detentor de empresas que funcionem e dêem lucro. Serve, isso sim, para pagar dívidas privadas. A bem da economia de mercado.
PS: Se o leitor por acaso tiver algum lixo de que se queira desfazer, eu compro-lho por 40 euros. Na condição de antes meter lá dentro um envelope com 550 euros. Aguardo resposta. Assunto urgente.

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