Obrigado, Steve


Publicado em: O Gaiense, 8 de Outubro de 2011
Morreu um dos tipos mais geniais da minha geração, mestre da arte de pensar diferente que criou, no árido mundo da informática, um oásis de inovação e criatividade. Há décadas, quem contactava com um Macintosh rapidamente se transformava num “Mac militant”, membro informal de um clube restrito cuja cumplicidade se construía numa cultura de oposição ao cinzentismo dominador da poderosa IBM e do mundo dos PC, um mundo formal de homens engravatados, símbolo do Golias capitalista contra que se batiam os revolucionários Davides da geração Apple. Um famoso anúncio de 1984, chamado precisamente “1984”, dava o tom afirmando que a Apple ia impedir que a profecia de Orwell se concretizasse: o Big Brother informático seria vencido.
Simbolicamente, na Apple não se usava fato e gravata, a farda do inimigo. E usávamos rato quando os PC funcionavam a partir de comandos do teclado. E tínhamos música, imagens e cores quando os outros faziam textos e folhas de cálculo a preto e branco. Tudo isto pode ser um pouco pré-histórico, mas a verdade é que a batalha contra a IBM foi ganha, os PC cada vez mais tentam parecer-se com os Mac e os utilizadores das novas gerações continuam a assistir, produto após produto, à continuação daquela revolução.
É um facto que a Apple é hoje uma grande empresa mundial. Mas Steve morreu de jeans e sem gravata e há algo difícil de explicar do espírito Apple que continua a entusiasmar os velhos militantes da causa. Ainda tenho um Classic e não tenciono mandá-lo para a sucata. Para que o iPad e o iPhone possam conhecer as origens da sua família.

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