Publicado em: O Gaiense, 19 de Novembro de 2011
Caíram dois primeiros-ministros na UE. Foram substituídos, sem qualquer “perturbação” eleitoral, por tecnocratas. Papandreou não deixa saudades e Berlusconi ainda menos. Os sucessores não serão certamente menos respeitáveis do que eles. Porém, esta substituição de políticos eleitos por tecnocratas de confiança dos mercados levanta questões muito sérias.
Foi assumido que a realização de eleições seria prejudicial para a confiança dos mercados e abalaria as periclitantes economias da Grécia e da Itália. Nas elites dominantes da UE houve uma sensação de alívio e uma visível satisfação com as soluções encontradas. No contexto da ideologia dominante e do actual paradigma económico, têm razão: se a política que está a ser seguida é inevitável, se as opções estão pré-definidas, não há nenhuma razão para os países fazerem eleições, que seriam momentos de escolha de povos a quem não é reconhecido nenhum direito de escolha.
A este estado chegou o capitalismo europeu: depois de, numa primeira etapa do seu desenvolvimento histórico, ter pregado a democracia para se impor face ao um poder aristocrático hereditário, vê hoje na democracia um entrave às reformas estruturais com que pretende alterar decisivamente as relações sociais e a distribuição de riqueza entre o capital e o trabalho.
A bandeira da democracia não foi, contudo, abandonada. Ela mudou de mãos e é hoje empunhada pelos que defendem a urgência de optarmos colectivamente por novas formas de organização da economia e da sociedade, assentes na partilha solidária e responsável e não no saque e na acumulação da riqueza nas mãos de minorias privilegiadas.
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