Publicado em: O Gaiense, 25 de Junho de 2011
O primeiro-ministro voou para a Bruxelas em classe económica, a nova regra nas viagens europeias dos governantes. É uma medida popular que, apesar insignificante para o défice, é um sinal para a redução de mordomias dos detentores de cargos públicos. Nesta matéria, honra seja feita ao eurodeputado do Bloco, Miguel Portas, que assumiu há meses esse combate relativamente às viagens do Parlamento Europeu, gerando enorme incomodidade entre alguns dos seus pares. Agora, pelo menos os deputados dos partidos da coligação terão mais uma incomodidade a adicionar à anterior: como voar para Bruxelas em executiva se os membros do seu governo vão em económica, eventualmente no mesmo avião?
Quem teve recentemente de comprar um voo concordará que a lógica de formação dos preços é um dos mistérios do universo mais inacessíveis ao conhecimento comum. Viajo várias vezes por mês e sou vítima dessa angústia epistemológica de tentar em vão prever o que vou pagar. Mas sei que a diferença entre classe económica e executiva é, nas viagens para Bruxelas, de cerca de 700 euros. E sabem o que dão em troca? Deixam-nos entrar primeiro no avião, vantagem pouco substancial se considerarmos que temos de esperar dentro o mesmo tempo que tiveram que esperar fora os últimos a entrar. Dão-nos uma bebida, um jornal, um toalhete molhado em água quente e algo parecido com um almoço em versão “comida de avião”. De resto, os assentos são iguais, as hospedeiras também e a viagem demora o mesmo em todas as classes. Com aqueles 700 euros, chegados a Bruxelas, poderíamos desfrutar do menu mais sofisticado no melhor restaurante e contratar uma cantora lírica para nos ler o jornal enquanto almoçamos. E ainda sobra algum para um bom cognac e um puro habano.
Em suma, andámos a ser roubados com os preços dos voos em executiva. Parece-me bem que os orçamentos públicos não colaborem no assalto.
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